quarta-feira, 30 de abril de 2008

Carreira pública ou carreira privada


O que é melhor como carreira profissional - a iniciativa privada, com seus riscos e estímulos, ou o meio público, com sua promessa de estabilidade e tendência ao comodismo? Tenho travado este debate com uma pessoa bem próxima nos últimos tempos e, sinceramente, não cheguei a uma conclusão ainda. Estou há dez anos atuando na área no meio empresarial, com passagens pelo setor público, mas por enquanto apenas como cargo em comissão - ou seja, ainda não tive uma incursão como funcionária pública efetiva, aprovada em concurso. Na verdade, sempre fui resistente aos concursos públicos, contrariando o incentivo familiar para buscar uma carreira estável. A idéia de, aos vinte e poucos anos, entrar para uma empresa na qual ficaria para o resto da vida sempre me soou nada estimulante. Assim, preferi entrar para o concorrido mercado liberal de trabalho, sujeita às intempéries e pressões, competitividade, instabilidade. Não me arrependo. Mas, com a maturidade, e as decepçõpes que levamos no mercado, vamos repensando algumas questões.

Continuo com alergia à burocracia, ao comodismo, mas estou timidamente entrando no mundo concurseiro. "Meu pai tinha razão", acabo pensando. Mas engana-se que escolher o meio público é uma opção fácil. Seleções de nível médio atraem gente com graduação e pós-graduação. Também... Enquanto um técnico de nível médio pode ter vencimentos de até seis mil reais, um professor com doutorado nas universidades federais ganha míseros cinco mil líquidos. Distorções deste Brasil de Deus! Cheguei a me matricular em um cursinho para me preparar para estes concursos, atraída pela possibilidade de ganhar quatro mil mensais. Concorreria com candidatos com apenas nível médio e outros especializados em Direito - cujas disciplinas dominam a maior parte das provas. Desisti. Melhor continuar sendo jornalista, mesmo na área pública, para a qual os concursos pagam bem menos. Dá para entender? Com nível superior o salário é de mil e 500 a 3 mil, e os concursos de nível médio pagam até o dobro.

Embora ainda não tenha uma posição totalmente definida - já disse que tendo a ser melancia - nos debates tenho defendido a carreira pública. Quem defende o meio privado cita como vantagens o estímulo ao crescimento do profissional, as possibilidades de ascensão na carreira, a adrenalina. Também preciso de reconhecimento, valorização, estímulo. Mas, quem tem alguma experiência no meio privado sabe o quanto somos descartáveis para as corporações. Temos nosso ego massageado enquanto somos úteis, e pouco importa nossa qualificação ou competência se deixamos de representar lucro para a empresa. Óbvio, ninguém pensaria que no mercado a lógica seria diferente. Não acredito também que passar em um concurso signifique pendurar as chuteiras e não trabalhar mais. Também há competição, vontade de atender bem ao público, cobrança interna e externa, senso de responsabilidade. Enfim, existe vida inteligente após a aprovação!

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Sucupira City

Em Sucupira, tudo vira circo. De assinatura de protocolo de intenções com direito a presença de pseudo-celebridades a abertura de loja com banda de música, tudo é possível. A última foi um show de fogos de artifícios (foquetes, dos bem barulhentos), com pagode rolando, enquanto lá dentro doentes e seus familiares tentavam ter um pouco de paz, à noite.
E a festa continua...

Tropa de elite por aqui?

Quando um conflito se estabelece, o que se espera das autoridades da área da segurança? No mínimo, equilíbrio e imparcialidade - se tiver que ter lado, que seja o da lei. Mas, quem garante qual será o lado a primeiro partir para os extremos, em uma luta em que duas forças estão em jogo? Comandantes circulando muito próximos a dirigentes de classe, ganhando "apoio" para agir naquilo que seria sua obrigação, tropa se alimentando às custas de um dos lados da batalha... Nada disso soa bem à população. Assim, quem deveria garantir a tranqüilidade a todos, toma o lado de uma parte, que acha que tem razão. Mesmo que tenha, não pode fazer daqueles que são pagos pela sociedade como um todo, capangas a serviço de seus interesses, sejam eles legítimos ou não. Tropa de Elite não é ficção e nem mesmo algo distante da realidade dos Pampas. Guardadas as devidas proporções, a promiscuidade pelo jogo do poder é a mesma. Só que, aqui, o preço é mais baixo. Ainda!

Cãezinhos assassinados pela cidade

Mortes de cães de estimação por envenamento em São Gabriel viraram rotina. O que tenho recebido de relatos de ouvintes do programa diariamente, é impressionante. Depois que a enfermeira Rosângela Bohrer, moradora do Bairro Vivenda, enviou um email pedindo a repercussão, no ar, da morte de dezenas de cachorros no bairro - incluindo filhotes da própria família e cachorros de vizinhos - notícias dando conta de fatos semelhantes em outros pontos da cidade não páram de chegar. Casos confirmados, e outros suspeitos, pipocam pela cidade. O mais surpreendente é que na maioria dos casos, a substância utilizada pelos criminosos é a mesma - estricnina. Lembram do cafezinho servido anos atrás à classe médica local? A venda, pelo jeito, continua indiscriminada nas farmácias. Órgãos de proteção aos animais, proprietários de cães vitimados e autoridades da área começam a se articular. Aguardemos os desdobramentos...

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Além do espelho...

Por que tememos tanto o diferente? Já diria Caetano, "Narciso acha feio o que não é espelho". Temos verdadeiro pânico de nos defrontarmos com o desconhecido, pois não sabemos lidar com ele, já que não temos o conforto de fórmulas prontas ou de um manual que nos indique o caminho. Somos comodistas. Encarar uma nova realidade ou fenômeno, seja de origem natural ou social, implica vivenciar uma situação de crise, desacomodação, conflito, reformulação de conceitos, reinterpretação da realidade, reinvenção de nós mesmos, muitas vezes. Ora, isso tudo dá trabalho, exige esforço, faz pensar. Poucos estão dispostos a tal investimento. Por isso, a maioria de nós prefere viver ancorado em velhos conceitos (em geral pré-conceitos), seguindo velhas fórmulas, reproduzindo o que outros antes já fizeram, sem inovar, sem questionar.
É por medo do desconhecido, ou do que nos é estranho, que rotulamos pessoas ou grupos, atacamos comportamentos como absurdos ou imorais, excluímos de nosso convívio pessoas que pensam diferente da gente, relegamos para a marginalidade aqueles que são tão antagônicos em relação a nós mesmos que não suportamos conviver com sua presença. Somos tão hipócritas que chegamos ao ponto de fazer coro humanista diante da barbárie histórica representada por eventos como o Holocausto, ou a Guerra Santa, ignorando que tais acontecimentos tiveram origem em pensamentos comuns aos que nos fazem, no dia a dia, ser tão narcisistas. É do medo do diferente, é do nosso egocentrismo doentio, da nossa falta de tolerância com o "outro" que nasce a guerra.
Todos somos naturalmente centrados no próprio umbigo, mas ter consciência de tal limitação já nos afasta um pouco de nossa própria perversidade. Fazer um exercício diário de relativismo e distanciamento, ao menos tentando ver a vida com um olhar mais crítico e menos pré-programado. Tal atitude parece pouco, e talvez seja mesmo, mas já ajudaria a nos aproximar um pouco mais de nossa condição de humanidade.