quarta-feira, 29 de junho de 2016

Frederico, uma pequena grande cidade


Desde março deste ano resido em uma cidade com pouco mais de 28 mil habitantes, localizada na região do Médio Alto Uruguai, no norte do Rio Grande do Sul. Quando soube da possibilidade de vir morar aqui, ouvi vários senões sobre viver em uma cidade tão pequena. Embora já tivesse visitado Frederico Westphalen e tido uma ótima impressão, venho me surpreendendo positivamente a cada dia.
Frederico tem muitos problemas, como qualquer cidade. Asfalto esburacado, lâmpadas sem manutenção, trânsito confuso, conservadorismo, pobreza. Mas é uma cidade que encanta. Para mim, que vivi mais tempo nas regiões Centro e Fronteira Oeste, é inevitável tecer comparações. Sou de São Gabriel, e vivi anos em Santa Maria (morei em Porto Alegre, mas aqui estamos falando de interior), então meu parâmetro é de uma cidade de quase 60 mil habitantes, porque não seria justo comparar Frederico com Santa Maria.
Fred West, como chamamos carinhosamente, conta (há dez anos) com um campus da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), além do Instituto Federal Farroupilha (IFF), Universidade Regional Integrada (URI), Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (UERGS) e outras instituições de ensino superior.
A construção civil está aquecida - nunca vi uma cidade deste porte com tantos edifícios novos e outros em construção. Os preços dos aluguéis são bem mais amigáveis do que em Santa Maria, por exemplo (ok, eu disse que não ia comparar as duas, mas cá estou).
O comércio é bem completo: há lojas com vitrines lindas, restaurantes, lancherias e pubs de bom gosto e preços diversos. Dá para acreditar que com R$19,90 se consegue comer em um rodízio de pizza delicioso com direito a buffet livre? Barzinhos com mesas na calçada também não faltam.
Aqui, a cada dois anos, é realizada uma feira multissetorial que deixaria municípios com o triplo do tamanho de Frederico morrendo de inveja. Na Semana Farroupilha, a praça da cidade vira centro cultural. Desde que estou aqui, já teve festival de rock e atrações sertanejas para todos os gostos. Daqui uns dias, Nando Reis e Roupa Nova farão shows na cidade.
As universidades têm cursos de Sociais e Humanas, então os eventos, debates e ações com tom criativo e problematizador trazem ares cosmopolitas para uma cidade ainda tão ligada às tradições católicas.
Na área da comunicação, Frederico me encanta ainda mais. Os jornais e rádios, assim como as agências de comunicação, desempenham um trabalho profissional. Há egressos dos cursos de Comunicação da UFSM empregados e estagiários com oportunidade de exercitar a prática da profissão. Hoje vi um anúncio de uma cooperativa da cidade que está contratando profissionais para atuar no marketing da organização. Eles pedem formados em Jornalismo ou Relações Públicas! Preciso dizer mais alguma coisa? Ok, a cidade é bonitinha demais!

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Tradição não é lei


Nos últimos dias, os meios de comunicação e as redes sociais têm discutido a polêmica em torno da cerimônia de casamento civil, realizada no último sábado, em Santana do Livramento. É preciso esclarecer que a decisão inicial de realizar o casamento no CTG Sentinelas do Planalto – alvo de incêndio criminoso – partiu de um pedido feito pela prefeitura, mediante solicitação da diretora do Foro de Livramento, juíza Carine Labres.
Ao contrário do que alguns comentários e artigos têm afirmado erroneamente, a intenção inicial não era promover um casamento coletivo homossexual, mas mais um casamento coletivo. Desta vez, alguns casais homossexuais decidiram participar, aproveitando os avanços na legislação brasileira que, desde maio do ano passado, por resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), igualou as regras para o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
No último sábado, quando se realizava o casamento na Fronteira, o Diário de Santa Maria veiculou, na página 4, um artigo assinado pelo empresário Paulo Norberto Brandt, intitulado Fogo no Galpão. Segundo o autor, a juíza estaria incentivando o conflito e marchando na contramão da história ao ter aceitado casar duas mulheres, entre os 28 casais inscritos, dentro de um centro de tradições gaúchas.
É preciso questionar a sentença não só em seu mérito, mas na sua legitimidade. É legítimo atacar uma representante do judiciário, responsável por zelar pelo cumprimento da lei, por uma decisão amparada na Constituição brasileira, que diz que todos somos iguais? Além de estar cumprindo com sua função, a magistrada deu um passo à frente na história, acolhendo os avanços em curso no país.
Em outro trecho, o empresário Paulo Brandt sugere que tradição tem força de lei e, por isso, um CTG não deveria aceitar em seu ambiente uma cerimônia que viesse a ferir suas tradições. Neste aspecto, a incoerência e a má fé são ainda mais evidentes. Tradição não é lei, é folclore. E as tradições não podem sobrepor- se às leis. Por outro lado, se a lei é assim tão cara aos que atacam os homossexuais, por que tanta resistência em aceitar o que diz nossa lei maior, para a qual a igualdade entre as pessoas deve ser resguardada acima de tudo?
Outro argumento utilizado pelo empresário, e que precisa ser desconstruído, compara homossexuais a traficantes, torcedores de um time ou membros de uma escola de samba. Homossexuais não são criminosos ou um tipo de clube. São seres humanos como quaisquer outros, e sua orientação sexual ou de gênero não deve limitá-los, pois a sexualidade é apenas uma parte que os constitui.
É o mesmo tipo de raciocínio de quem defende que se um lugar não aceita mulher de minissaia ou homem de brinco, também tem o direito de não aceitar gays. Ainda que possamos questionar as exigências do MTG quanto às vestes, estilo musical e outras questões ligadas ao folclore gaúcho, a instituição tem o direito de resguardá-las, desde que sem uso da violência. A instituição tem também o direito de não promover em seus espaços, por iniciativa própria, atividades de apoio à comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros, e não mais GLS, como escreveu Brandt). O que qualquer instituição não pode é ir contra a lei e discriminar quem quer que seja por sua condição. Aliás, se assim fosse, ainda hoje os clubes e CTG’s barrariam negros de entrar em seus espaços.
Disse o empresário que, em seus 53 anos de vida, jamais foi convidado para um casamento em um CTG. Talvez precise rever seu círculo de amizades dentro do tradicionalismo. Em meus 39, participei de inúmeros casamentos em CTG’s. Frequentei esses locais durante boa parte de minha infância e adolescência e comemorei meus 15 anos em um.  Em 1984, fui 1ª prenda do CTG Caiboaté, de São Gabriel, 1ª prenda do mesmo município, e 2ª prenda da 18ª região tradicionalista do MTG, dancei em invernada artística por alguns anos e, embora hoje mais afastada, continuo apreciando muitas coisas da cultura gauchesca. Se alguma coisa pode vir a destruir a tradição gaúcha, como teme este senhor, é o preconceito e o ódio contra as diferenças. Eu, por exemplo, questiono muito da cultura machista presente no tradicionalismo, mas fico feliz ao saber que vários jovens hoje estão mudando essas coisas de dentro, participando do movimento. Conheço vários homossexuais que são tradicionalistas. Por que eles não podem se casar em um CTG se assim o desejarem? Ou eles só servem para fazer número?
Para encerrar, o ilustre empresário afirma que a juíza deve um pedido de desculpas ao povo gaúcho e um reconhecimento aos “homens que foram defender aquilo que temos de mais valioso”. Neste aspecto, é preciso muito cuidado. Estaria o senhor Paulo endossando o ato criminoso daqueles que atearam fogo no CTG de Livramento? Se a resposta for afirmativa, então quem deve se retratar é ele. Não podemos admitir que um empresário, uma dita liderança local, utilize um espaço democrático e o direito à livre expressão para defender o indefensável. Não se pode confundir liberdade de expressão com incitação ao ódio e à barbárie. Todos podemos gostar ou não gostar daquilo que nos soa diferente, mas invocar a tradição para legitimar atos criminosos é inaceitável. Se está, assim, tão preocupado com a cultura gaúcha, este senhor deveria se unir àqueles que estão tentando mostrar ao resto do país e ao mundo que por aqui existe gente que respeita as diferenças e luta por um mundo mais justo e igualitário.




terça-feira, 6 de setembro de 2011

Todas somos um pouco mutiladas

A verdadeira Waris
Waris Dirie é uma mulher corajosa, dona de uma daquelas histórias que parecem ter sido escritas para virar livro ou filme. E a história de Waris virou livro e virou filme, feitos dos quais ela própria fez parte, como autora de sua autobiografia e atuando na produção do filme que conta sua saga. 

Talvez você não esteja associando o nome à pessoa, ou à história, mas certamente já ouviu falar da vida dessa mulher. Waris é aquela modelo somali que foi descoberta ao acaso na Europa e acabou chamando atenção do mundo ao denunciar o sofrimento vivido durante séculos por mulheres africanas sujeitas a um controverso costume local que consiste na mutilação da genitália feminina. 

Por conta de uma crença sexista que subjuga a mulher e lhe confere uma condição inferior, como ocorre em tantas culturas até os dias de hoje, essas meninas ainda muito jovens têm seus clitóris e lábios vaginais retirados como forma de garantir sua "pureza"; o que sobra é costurado, deixando-se um orifício muito pequeno que só é depois ampliado à navalha pelo "marido" na "noite de núpcias'. Revoltante, por mais relativistas que tentemos ser diante de tamanha brutalidade.

Liya Kebede interpreta Waris
Trago a história de Waris porque, apesar de já ter lido e ouvido falar dela há alguns anos, ontem assisti ao filme A Flor do Deserto (2010), baseado na autobiografia da menina mutilada que fugiu pelo deserto sozinha na noite anterior ao seu casamento arranjado com um homem de 60 anos, que "pagou muito bem por ela", foi viver como doméstica na Europa, virou modelo e depois ativista e embaixadora da ONU. 

Fiquei muito tocada, emocionada mesmo. O filme é bem feito, é delicado e cru ao mesmo tempo. A atuação do elenco e o roteiro conferem ao filme ares de documentário, em alguns momentos. É como se fôssemos testemunhas daquela história de coragem, força, pureza, humanidade e um tanto de sorte.

O que me tocou tanto nessa história é que a mutilação daquelas meninas é o sinal mais evidente do que o machismo é capaz de fazer com a mulher, tornando-se naturalizado, por mais sofrimento que cause a suas vítimas. 

A atriz e a Waris "de verdade"
A cena em que Waris descobre que, fora de sua aldeia, as mulheres são inteiras e, nem por isso, menos mulheres, e podem ter prazer com seus corpos, é fascinante. Mostra o choque cultural dos dois lados, nós na pele da amiga ocidental de uma Waris que vai se descobrindo um ser inteiro, que então se dá conta da dor sofrida aos 3 anos de idade, quando a mãe a leva até a mulher que dilacera sua vulva e sua vagina, que em pedaços viram comida de pássaros. 

Uma das cenas da infância de Waris, pouco antes da fuga
De imediato enxerguei aquela cena como uma metáfora de tantas mutilações que as mulheres dos lugares mais diversos do mundo ainda sofrem todos os dias. O que me alenta é saber que existem outras Waris por aí, erguendo-se contra seus algozes, denunciando a mutilação, superando a dor e transformando o mundo em um lugar melhor.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Eu gosto de polêmica


Eu adoro me envolver em polêmica! Não porque eu seja uma pessoa beligerante, mas gosto de manifestar minha opinião, confrontá-la com outras. Acho que a gente sempre aprende um pouco mais ao se colocar diante de argumentos antagônicos aos nossos. 

O gosto pelas discussões vem desde cedo, quando ficava horas à mesa da cozinha, acompanhando meu pai, que jantava depois de chegar do trabalho. Homem simples e de pouco estudo que era, mas de grande sabedoria e experiência de vida, fazia um relato crítico de sua leitura diária dos jornais e do que ouvia no balcão de seu bar, sustento de nossa família. Eu o ouvia, trocava ideias com ele, apresentava minha forma de pensar. Apesar de eu ser tão jovem ainda, ele me escutava com atenção, dava seu contraponto, mostrava admiração pelo meu interesse nos assuntos de gente grande. Às vezes alterávamos a voz, sem brigar. Era uma forma de acalorar o debate de forma saudável, mas apaixonada. Minha mãe nos repreendia. 


Quando saí de casa para fazer faculdade, meu pai e eu continuávamos com esse hábito, travando nossos debates em minhas idas, aos finais de semana. Provavelmente esse gosto dele pelos assuntos da vida, indo da política à História, passando pelas crendices populares que ele trazia de sua infância no campo, tenham ajudado a definir minha escolha pelo curso de Jornalismo. Depois que meu pai se foi, continuei "polemizando" aqui e ali. Gosto de me indignar apaixonadamente diante das coisas da vida!

Meu irmão, que era pequeno na época dos debates noturnos que eu tinha com meu pai, também herdou a mania de discutir ideias. Quando nos encontramos, travamos nossos debates, que às vezes chegam a ocasionar um pequeno bate boca, mas sem que isso nos afaste ou minimize nosso afeto. A mãe, agora com o coro da minha filha, continua reprovando!


Exercito minha veia polêmica sempre que posso... Quando trabalhava como repórter/apresentadora na Rádio São Gabriel, aproveitava para polemizar. Acredito na polêmica como metodologia libertária. Ajuda a sacudir preconceitos, a mudar paradigmas, ou pelo menos desacomoda os espíritos conservadores. Mas em São Gabriel não precisei fazer muito esforço para colocar em prática minha veia polêmica. Bastava entrevistar membros do MST. Imagina o que é isso em uma cidade dominada por fazendeiros... Sei que incomodei quando dei ampla cobertura a uma CPI que investigava o então Prefeito por suspeitas de irregularidades em uma licitação. E que satisfação receber, certa vez, o telefonema desaforado da Defensora Pública com seu tom ameaçador porque ela não gostou de alguma informação que dei no ar!


Agora, com as possibilidades trazidas pelas mídias digitais, volta e meia coloco em prática meu gosto pela polêmica. O Facebook está se mostrando um terreno muito fértil. As pessoas postam muito embaladas pela emoção, por impressões momentâneas, e acabam desabafando o que estão sentindo, externando o que estão pensando sobre determinados assuntos. Quando alguma postagem mexe comigo, não hesito em comentar, e adoro quando vejo outras pessoas fazendo o mesmo, seja para discordar ou para endossar o que foi dito.

Essas manifestações a cada dia me surpreendem mais, pois permitem conhecer melhor o modo como pensam pessoas próximas e distantes. O mais legal é que vou encontrando afinidade com gente com quem nunca convivi e divergências com pessoas mais chegadas com quem eu achava que tinha algo em comum. 

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Você gosta de carinho ou baratinho?

Andei postando no twitter e no facebook minha opinião sobre um textinho que andou rolando nas redes sociais em que se faz uma brincadeira (ao meu ver de mau gosto) sobre a preferência de certas mulheres a coisas caras e sua correspondente aversão às baratas (bichos e coisas). Critico essa bobagem porque não a considero assim tão inofensiva. Ela reproduz uma visão machista das mulheres, com aval de muitas de nós, dando a entender que, acima do "carinho" (afeto) estamos interessadas em presentes e objetos caros. Não sou hipócrita e admito que adoro comprar e gosto de ganhar presentes, mas não me importa o preço desses objetos, e sim o que eles podem trazer de bom pra mim, a intenção por trás de um presente, o gosto de comprar uma coisinha nova etc. Mas essas coisas não são prioridade! O carinho que importa é outro e não tem preço!
Vi uma afirmação do escritor da próxima novela das 21h da Globo criticando a futilidade feminina, dizendo que estamos muito preocupadas com a aparência e pouco ou nada com o caráter e outros valores morais. Acredito que isso valha para os homens também, para a sociedade, mas não podemos generalizar. Futilidades sempre estiveram em pauta e talvez hoje existam mais recursos que acabam por exacerbá-la. O fato é que precisamos de um pouco de alegria, graça e beleza para que a vida, tão cheia de mazelas, torne-se mais leve.
Minha relação com a moda e o consumo sempre foi muito ambígua. Ora tenho ímpetos consumistas e vontade de me largar nas tendências, ora sinto vontade de me rebelar contra o sistema e virar hippie. Como não tenho dinheiro para sair por aí comprando tudo que enxergo e nem uma alma riponga que me faça feliz sem vaidade, acabo ficando no meio termo. Quando eu era adolescente, época em que despertamos com mais afinco para os cuidados com a aparência, minhas referências em moda eram minhas amigas, as meninas do colégio (opções um tanto fracas, levando em conta que na minha cidade era todo mundo meio igual) e a Capricho - a revistinha aquela mesmo!
Hoje, a variedade de fontes de informação é incrível! Tem blog para dar e vender. Eu sigo alguns, acompanho, e fico com aquela diabinha consumista me incitando a gastar. Mas, meu lado crítico ao sistema (e meu bolso pobre) me faz cair na real, e acabo me indignando com o quanto essas blogueiras são instrumentos a serviço do mercado, nos deixando loucas para comprar com aquelas dicas incríveis de produtos e mais produtos que amamos! Óbvio que elas apenas refletem o momento cultural que vivemos e o sucesso que fazem comprova isso. O problema é que tem gente que nunca vai sair da casa dos pais do jeito que compra! Trabalha apenas para sustentar seus pequenos luxos, e nada de pensar no futuro. Mas aí, é problema de cada um...
Confesso que também fiquei mais consumista depois que comecei a ler esses blogs, por outro lado aprendi a procurar similares aos produtos maravilhosos desses sites com preços adequados ao meu orçamento e a tentar ser mais criativa na hora de me vestir. Até brinquei no twitter e com umas amigas que estou pensando em fazer um blog de moda para quem ganha pouco. Se a ideia "sair do papel", meus primeiros posts serão compartilhando algumas pecinhas que adquiri nos últimos anos por precinhos bem pequenos. Tenho uma bermuda preta curtinha, evasê, que comprei a meros 19 reais em maio deste ano. Não tem qualquer diferença de qualidade em relação as que vi nas lojas com valores acima de 100. Aliás, comprei uma em 2008 que nem era tão bonita e que custou uns 80 e poucos. Também estou adorando comprar anel baratinho. Com 6 pilas a gente encontra maravilhas aqui em Santa Maria. E olha que detesto coisa brega! Acho que vou me inspirar e brincar de blogueira de moda,  postando aqui as imagens dos meus baratinhos! Vamos ver...

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Tristezas do cotidiano

Manifestantes de mãos dadas por mais segurança. Foto de Fabiano Dallmeyer

Notícias muito tristes nos últimos dias em Santa Maria. A cidade cultura, universitária, agora ganha as manchetes por conta da violência. Crimes ocorrem todos os dias, mas quando o palco é o Calçadão, ponto de encontro dos jovens, local de tomar chimarrão e celebrar a vida, inevitável a comoção popular. Depois da agressão a um rapaz por um grupo de jovens, a morte de um universitário a facadas em um assalto. 
Hoje uma caminhada reuniu 300 pessoas pedindo paz e mais segurança por parte do poder público. A ironia é que foi prometido mais policiamento depois da briga de dias atrás, o que pelo jeito não se cumpriu, e na caminhada de hoje era grande a presença de PMs. Outro fator de indignação é a informação de que o atendimento ao jovem ferido na última madrugada teria demorado 25 minutos, resultando em sua morte a caminho do hospital. 
O crime lembra um outro ocorrido há poucas semanas, quando um militar reformado foi morto a tiros após reagir a um assalto. Infelizmente o que nos resta é pedir mais segurança, policiamento, mas sabemos que isso não combate as causas, que são muito mais complexas e profundas. Relatos de assaltos a taxistas são comuns, e sabemos que a maioria dos assaltantes buscam dinheiro para trocar por drogas pesadas. Por trás disso, o abandono, a desigualdade de oportunidades, a falta de educação e amor na infância? 
Difícil ser feliz hoje em dia, viu? Todo dia relato de abuso de menores, estupro dentro de casa, pai que mata a própria filha por dinheiro, uma banalização total da vida. Dá uma sensação de descrença na humanidade que dá medo de viver. É a tragédia fazendo parte do cotidiano.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Eu também tenho preconceito...

Agora que trabalho com mídias sociais, acabo não atualizando meus próprios blogs. É falta de tempo, por um lado, e de ânimo, por outro. Já passo o dia todo diante do computador, produzindo conteúdo e interagindo nas mídias dos clientes, que quando acaba o expediente prefiro focar em outras prioridades. Tive um final de semana maravilhoso, comemorei meu aniversário com as pessoas que amo, curti minha casa, organizei algumas coisas. Mas, antes de ir dormir nesta noite de domingo, precisava colocar para fora aqui no blog alguns pensamentos que têm me inquietado por dias. Vamos lá...

Por que somos intolerantes com as diferenças?

Não é de hoje que me meto em polêmica ao expor minha indignação com algumas opiniões de amigos ou conhecidos postadas nas redes sociais. Defendo sempre o direito de as pessoas manifestarem suas opiniões, e exatamente por isso me sinto no direito de também manifestar a minha, o que muitas vezes gera animosidades.  Ultimamente, o que tem me perturbado é a força do preconceito entre pessoas que conheço há tantos anos, que tiveram uma formação parecida com a minha e que, por isso, acredito terem a obrigação de exercitar o raciocício inteligente, a capacidade de relativizar suas próprias crenças e preconceitos, mas que preferem agarrar-se com unhas e dentes a seus julgamentos apressados e intolerantes. Gente que levanta a bandeira da moral e dos bons costumes para condenar a homossexualidade dos outros, mas que não se indigna diante da injustiça social, da corrupção ou da violência. Consideram a novela culpada por deturpar os "valores" da sociedade, perdendo a chance de ver, na ficção, a reprodução crítica da realidade nacional. 

A novela é vista por essas pessoas como manipuladora de corações e mentes, sendo o telespectador visto como um ser incapaz de se posicionar diante do que é mostrado. Se a novela mostra um beijo gay, estaria, para esses arautos da moral e dos bons costumes, incentivando a "prática do homossexualismo" entre as crianças e jovens. Oh, my God! Se acham inadequado para seus filhos, basta trocar o canal ou desligar a televisão. Eu, confesso, prefiro que minha filha saiba como anda o mundo para que esteja preparada para lidar com ele. A novela tem muita bobagem, mas não acho de todo ruim o que anda mostrando.

Por que choca?
Ao mostrar em horário nobre o quão ridícula é a homofobia, a roubalheira, o oportunismo, a televisão está prestando um serviço à família brasileira, pautando temas polêmicos a serem discutidos, promovendo um saudável desconforto entre as pessoas "sentadas na sala de jantar". Mas, quando aqueles que deveriam ser a "elite" pensante - gente com formação universitária e boa condição financeira - utilizam a força da rede social não para aplaudir a oportunidade lançada pelos meios de comunicação mas para condenar e sugerir o silêncio, alguma coisa está muito errada. 

Certamente tenho familiares bem próximos que pensam na mesma corrente que condeno, e discordo de forma veemente e aberta de suas opiniões. Mas, quando o preconceito parte de pessoa mais velha ou sem maior escolaridade, entendo a limitação, a dificuldade de relativizar suas próprias crenças. É preciso um exercício filosófico muito doloroso (e não menos gratificante) para conseguirmos superar valores que nos foram passados ao longo da vida. Para mim não foi um processo rápido e muito menos fácil perceber quanta bobagem me foi ensinada (em casa, na escola, pelos amigos). No entanto, fui privilegiada com um senso crítico bastante aguçado que sempre me permitiu desconfiar diante do "é porque é". O que não consigo entender é gente jovem e com certo nível de estudo que não sabe pensar.

Que tal se colocar no lugar do outro?

Na minha infância, muito ouvi dizer que negros eram seres de menor valor, gays eram depravados, mulheres separadas eram pecadoras, filhos de pais separados eram sempre problemáticos, mulher tinha menos direitos que homem. Felizmente, desde cedo duvidei dessas "verdades" e, graças a muito pensamento, discussão, leitura e, principalmente, ao exercício de observar a contramão, consegui me livrar delas, de algumas só bem recentemente, confesso. E tenho ainda muito preconceito para deixar pelo caminho. Hoje mesmo vi, no Twitter, que um dos últimos preconceitos a serem eliminados da sociedade é o contra mulheres mais velhas, na faixa dos 50, que namoram garotões de 20 poucos. Logo eu, que vivo com alguém 7 anos mais novo , me sinto no direito de olhar atravessado para casais em que a diferença de idade é muito maior! Veja o absurdo da incoerência que os preconceitos nos imputam! Quando me dei conta que eu tenho esse tipo de pensamento pequeno e sem qualquer sentido, me senti muito ridícula. O que há de errado, afinal, em pessoas que se curtem resolverem namorar, casar, viver juntas? Se são do mesmo sexo, se têm níveis sociais diferentes, se nasceram em épocas distintas, qual o problema??? Ah, a fulana é interesseira, ou o fulano só está com a coroa para se promover. Ok, mas o problema é deles e não meu. Não há argumento que sustente nossos preconceitos. Esses casais não estão prejudicando quem quer que seja em função de suas vidas amorosas e sexuais. 

Por que não?
Fico apavorada com os argumentos de quem não quer ver naturalidade em um relacionamento gay. Dizem que é contra a natureza porque eles não irão reproduzir, como se o sexo entre os hétero visasse apenas a reprodução. "Ah, mas e se todo mundo virar homo, o que será da humanidade?". Olha, em primeiro lugar não creio que isso irá acontecer, e mesmo que aconteça, se for para as pessoas se sentirem mais felizes, que seja. Quanto à reprodução da espécie, sempre haverá um amigo gay para uma amiga lésbica interessado em contribuir para a continuidade da raça humana. "Ah, mas uma criança ser criada por dois homens ou por duas mulheres será ruim para o caráter dela". Ah, é? Por que? O que a índole de uma pessoa tem a ver com sua orientação sexual? Ah, e tem o argumento Miriam Rios, que associa homossexualidade com pedofilia. Esse é o pior dos argumentos. Por que raios as chances de uma pessoa homo ser pedófila seriam maiores que de uma hétero??

O homofóbico é machista
O que também não entendo é que grande parte dos homofóbicos adora dizer que aceita os gays, que tem amigos que são, e que é contra a discriminação. No entanto, acham que casal gay não tem o direito de tornar o relacionamento público. Deus o livre andar se pegando ou se beijando na rua! Tá, mas casal hétero pode? Se a pessoa fica chocada de ver um casal trocando um beijo em público, pode ser que ela é que tenha problemas, não? 
Sabe o que eu visualizo diante de gente que ostenta opiniões desse tipo? Por pessoas assim, que acham que igualdade é deturpação dos costumes e dos valores, as mulheres nunca teriam conquistado o direito a votar, trabalhar e ser gente; os negros continuariam sendo escravos; uma vez tendo casado ninguém poderia se separar, e os gays devem todos continuar no armário para não chocar a sociedade. Aliás, é em função dessa hipocrisia toda que até hoje tem muito gay bancando o hétero, casado com uma pessoa do sexo oposto, e infeliz, por medo de enfrentar essa hostilidade toda. Na verdade, tem que ser muito corajoso para se assumir como se realmente é nesse mundo de tanto preconceito e hipocrisia, não é?
Bom, acho que me sinto melhor agora que desabafei um pouco.
Até uma próxima!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Seguindo em frente

Mais um ciclo se encerra. Defendi a dissertação na sexta-feira. Agora, embora ainda não tenha recebido meu querido certificado, sou mestre em Comunicação. Foram alguns anos em que isso era um sonho, depois virou uma meta e se concretizou. Agora, novas perspectivas, novos sonhos. Os últimos meses foram tensos, as últimas semanas mais ainda. Tive algumas frustrações, mas a vida segue. Também passei por mudanças maravilhosas e tenho tesouros valiosos comigo. Estou feliz, aliviada e cheia de planos para o futuro. Quem sabe este blog também se transforme. Por hora, preciso de tempo... Para colocar tudo em ordem e recomeçar.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Você acredita na mudança?


Você acredita que as pessoas mudam? Eu acredito que sim. As pessoas não nascem prontas e, apesar de formarem grande parte de sua personalidade e caráter na infância, segundo o que nos diz a Ciência, estamos constantemente em transformação. Portanto, não há como duvidar que a vida está sempre nos dando novas chances de mudar, para melhor ou pior, dependendo do ponto de vista.

Não sou tão ingênua a ponto de acreditar que num passe de mágica podemos nos tornar diferentes, ou que as manias da pessoa que amamos irão sumir apenas porque queremos. Muitas vezes é difícil demais perder certos hábitos ou mudar o jeito de pensar. No entanto, é possível, desde que tenhamos vontade e que estejamos abertos à transformação.

Algumas pessoas muito próximas a mim dizem que mudei muito, mas eu creio que na verdade estou apenas deixando minha essência mais à mostra, e isso é uma grande transformação. Não é fácil sermos nós mesmos em um mundo que nos enche de cobranças por todos os lados. Os pais querem que a gente dê certo, mas o conceito deles de "certo" e de "melhor pra nós" nem sempre corresponde ao que queremos de verdade. Para uns, posso ser considerada um fracasso porque com mais de 30 ainda não tenho carro do ano e casa própria. No entanto, outras pessoas podem enxergar que as minhas grandes conquistas são as experiências de vida que me levaram até o caminho que eu queria seguir para me sentir feliz.

Quando falo que hoje sou mais eu mesma, creio que talvez seja assim com todo mundo. A mudança não é radical, pois não nos tornamos outra pessoa; nos tornamos aos poucos nós mesmos, aquilo que somos em essência e que as circunstâncias nos impedem de mostrar. Talvez aquela pessoa violenta esteja apenas querendo chamar atenção para sua carência de afeto. Talvez aquela mulher fofoqueira precise de coragem para dar uma guinada em sua própria vida e parar de se preocupar com a dos outros. Quem sabe aquele cara insensível que trata mal as mulheres com quem se relaciona esteja apenas demonstrando sua frustração como homem.


Não estou querendo arranjar desculpas para os erros das pessoas, mas fazer um exercício de relativismo nos ajuda a ver que nem tudo é como realmente parece. Um tanto óbvio, eu sei, mas às vezes o óbvio nos passa despercebido e a gente complica as coisas ainda mais. Impossível não acreditar nessa mudança, nesse processo de crescimento e auto-descoberta, se até mesmo um livro pode nos impulsionar em direção a ela. Uma conversa, um cheiro, um impulso, tudo isso pode nos mover. O tempo, que nos deixa rugas e cabelos brancos, também nos aprimora por dentro, a não ser quando nos amarguramos com as frustrações e perdemos as oportunidades de melhorar. Aí só nos resta sermos velhos rabugentos que ninguém aguenta. Mas, ainda teremos escolha. 

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Cala a boca Prates

E o assunto do dia no Twitter, com direito a trending topic, é o triste comentário de Luiz Carlos Prases na RBS Santa Catarina. Deveria ser demitido sumariamente. Coloca a culpa dos acidentes de trânsito nos pobres e mal instruídos, como se não houvesse ricos ignorantes e imprudentes. Gente assim me dá nojo e medo do ser humano.