domingo, 11 de janeiro de 2009

Escolhas


O que faz a vida valer a pena? Os momentos raros que levam o coração a disparar e nos tiram o fôlego, ou a segurança perene daquilo que já conhecemos? Este questionamento me veio ao assistir As Pontes de Madison, romance ícone dos apaixonados, que ainda não tinha visto. Uma típica dona de casa do interior se redescobre uma mulher que queria muito mais da vida ao conhecer, e se apaixonar, por um fotógrafo cidadão do mundo. Em apenas quatro dias, eles se vêem diante da certeza de que se amam. Surge o conflito: largar o lar doce lar para ir viver um romance que significa a realização das projeções da juventude, ou continuar levando a mesma vida de sempre? A decisão, pela segunda alternativa, não é apenas a escolha de uma mulher covarde e conformista. Quando dá adeus ao homem que a despertou de um coma existencial, nossa mocinha faz mais do que optar pelos filhos e o marido "limpo e correto". A justificativa dela é sábia! De tão valiosos que foram aqueles poucos dias, ela resolve imortalizá-los. Certamente ela teve medo do desconhecido, apego à vida que construiu, mas o que falou mais alto foi a certeza de que algo tão especial que lhe acontecera não merecia ser destruído pela rotina que poderia vir pela frente. Uma escolha, embora pareça paradoxal, de alguém que valoriza por demais seu próprio ideal de vida. Ela precisava da ilusão a ponto de não querer torná-la real.

Me ocorreu que a vida se resume a estas escolhas. Quantas oportunidades de optar entre nossos desejos e o caminho já trilhado nos aparecem? No fundo, nossa alma clama, grita lá de dentro para que sigamos em direção ao novo, porque se nos despertou o desejo, é porque é importante pra gente. Não falo de impulsos vagos ou caprichos, e sim de nossas verdades mais essenciais. Sempre sabemos o que queremos, mas por insegurança, medo, falta de atitude, por vezes o deixamos escapar. A dúvida é, no fundo, nossas certezas nos apontando o dedo em riste.

Mas, e quando damos ouvidos ao coração, sempre optando pelo que lá no fundo é o que realmente queremos? Tornamo-nos eternamente insatisfeitos, sempre em busca de algo novo que nos preencha o maldito vazio que nasce com a gente? Talvez seja a busca em si que nos leve adiante, que dê sentido a nossos dias. Já que o exemplo está no romance, é o caso de pessoas que vivem eternamente procurando, trocando uma paixão por outra sem nunca "se encontrar". Mas, vem aquela máxima de que é preciso conquistar a mesma pessoa todos os dias... Sempre lembro do que Contardo Calligaris disse em uma entrevista, sobre o porquê de os relacionamentos não resistirem ao término da fase da paixão. Segundo o psicanalista italiano, o problema é que ao matarmos a individualidade do outro, perdemos o interesse e a paixão vai embora precocemente. É o mistério que nos seduz. Como a vida, o amor só sobrevive se implicar em desafio. Para manter o coração batendo forte, precisamos deixar espaço para a conquista diária. E aí lembro de um filme que acabo de ver: O Escafandro e a Borboleta. Se o primeiro nos aprisona, fazendo-nos vítimas de uma verdadeira "síndrome do encarceramento", a segunda nos liberta e nos mantêm vivos. Mais uma vez, estamos falando de escolhas.

Um comentário:

Mel disse...

Adorei teus textos.
Vou te "linkar".
Beijos!