terça-feira, 8 de setembro de 2009

Intercom 2009 - Diário de Bordo


Passei o feriado em Curitiba, participando do Intercom (evento nacional de Comunicação), que foi sediado pela Universidade Positivo na capital paranaense. Saímos de Santa Maria na madrugada de quinta para sexta-feira, e só chegamos em casa no final da manhã desta terça. Éramos umas doze pessoas do Mestrado e da Graduação, a maioria mulheres, além dos dois motoristas do microonibus responsáveis por nosso traslado.
Chegamos na tarde de sexta e fomos quase direto para a palestra de abertura, com o francês Dominique Wolton e sua fala sobre política e comunicação. A chegada ao campus da Universidade Positivo foi responsável pela primeira ótima impressão. O campus é grandioso, limpo, florido, e oferece uma estrutura invejável. O Teatro Positivo, onde foi realizada a palestra, é o maior do Paraná, e magnífico.
A primeira decepção da viagem foi quando resolvemos, após a palestra, seguir para o centro da capital e procurar uma pizzaria indicada por “nativos”. Todos com muita fome e cansados por conta da viagem de 15 horas da ida, fomos recepcionados por um segurança nada amigável nos informando que o rodízio encerrara às 22h em ponto, apenas alguns minutos antes de termos chegado ali. Tentamos argumentar, mas ele foi irredutível. Depois de alguma tentativa de negociação – o Wolton e sua comunicação como tolerância foi muito útil no momento – resolvemos entrar e pedir pizza a la carte. A pizza foi rapidamente servida e era uma delícia, o atendimento ágil, mas nada simpático. Os garçons e os atendentes do caixa sequer se esforçaram para esboçar algum sorriso aos “turistas”.
O evento durante todo o final de semana e o feriado foi ótimo, e posso falar especificamente sobre as atividades do Grupo de Cibercultura, do qual participei. Pela quantidade de painéis apresentados, subdivididos por temática de pesquisa, era um dos maiores GPs do Intercom. Apresentei um trabalho sobre o twitter na manhã de domingo e acompanhei ótimas discussões sobre meu interesse de trabalho, inclusive sobre jornalismo digital e web 2.0. Foi a primeira vez que apresentei um trabalho nessa linha em um evento dessa envergadura, o que me deixou bastante nervosa na véspera. Mas me senti realmente no meu grupo, em casa. É impagável se sentir pertencendo a uma comunidade de pessoas que estão pensando questões como as nossas e ver que mesmo estando fora do eixo das capitais estamos conectados com pesquisadores de excelente qualidade e renome. Sinto não ter podido acompanhar as falas do Prof. Dr. Alex Primo, da UFRGS, um dos teóricos que norteiam meu referencial teórico, e que coordena o GP de Ciber. Mas, esse é o principal aspecto frustrante do Intercom. Como o evento é muito grande e congrega ao mesmo tempo tantas atividades, não conseguimos acompanhar tudo que nos interessa.
E a segunda noite em Curitiba, sábado, foi melhor do que a da experiência com os nada simpáticos funcionários da pizzaria. Seguimos a indicação para conhecermos a famosa Rua do Batel, onde ficam vários barzinhos e restaurantes. Eu e duas colegas saboreamos ótimos hambúrgueres e gelados chopps em um ambiente muito bem decorado no melhor estilo lanchonete americana estilizada (ao som de Elvis Presley), sendo atendidas por garçons agradabilíssimos.
A terceira impressão ruim nos chegou na noite de domingo, quando a turma toda resolveu ir para o popular Bar do Alemão, uma aconchegante chopperia no centro histórico com mesinhas ao ar livre e muita gente batendo papo. Mas, logo que chegamos, mais um garçom de poucos amigos nos levou a cogitar mudar de endereço. A vontade virou obsessão depois que recebemos uma cantada bizarra de um jovem um tanto alcoolizado, e seguimos para a reconfortante Rua do Batel, onde nossa noite terminou em um bar inspirado na temática comunista-soviética (uma ironia para um espaço de consumo que roda clipes da rap americano), que tinha bebida, comida boa e gente bonita, uma ótima combinação para fazer com que Curitiba voltasse a ser no nosso imaginário uma cidade cosmopolita.
A manhã de segunda terminou com uma boa discussão no Intercom sobre jornalismo e literatura. A tarde começou com almoço no shopping e seguiu com turismo na Ópera de Arame e no Jardim Botânico, sob chuva. Encerramos o dia com a viagem de volta e uma experiência inesquecível. Um temporal na estrada obrigou nosso motorista a tentar parar no acostamento, o que se tornou impossível com a força do vento e da chuva. Assistíamos O Caçador de Pipas no DVD quando uma buzina atrás nos sobressaltou. Fomos arrastados pelo vento para trás e batemos na carreta que estava tentando parar, assim como nós. O vidro traseiro de nosso microbus quebrou e era possível ver pela janela, protegida então só com a cortina de pano, a frente da carreta que parecia vir em nossa direção. Felizmente foi apenas um grande susto. Ninguém se machucou, e pudemos seguir viagem até o primeiro posto. Umas três horas parados, sem luz nem sinal de celular, estrada interrompida com árvores que foram arrancadas pelo vento e um caminhão tombado. Voltamos, sem problemas, um pouco tensos, emocionados por aquele momento que nos fez chorar, rezar e rir juntos.



Importante registrar a qualidade das pessoas que nos conduziram sãos e salvos até nossas casas. Nossos motoristas, Jorge e Kiko, além do companheiro de viagem Wagner (que é de outro programa da UFSM, único homem entre os passageiros), mostraram-se figuras da melhor qualidade, que aturaram um bando de mulheres muitas vezes confusas quanto à localização geográfica de seus destinos, algumas atrasadas, outras indecisas. Eles sempre foram alegres, simpáticos conosco, compreensivos, humanos. Nós, as meninas do Mestrado e outras duas da Graduação, estreitamos laços, nos aproximamos, nos humanizamos naquela experiência surreal.


ENCONTROS E REENCONTROS - Pessoalmente fiquei feliz em conhecer face a face pessoas que admirava de longe, de sua produção intelectual (o Prof. Alex Primo e a mestranda Gabriela Zago) ou de suas postagens no Twitter (@jblago). Foi ótimo ter reencontrado dois ex-colegas de faculdade, ambos professores universitários – O Márcio Fernandes, da Unicentro do Paraná, e o Gleber Pieniz, em universidade de Joinville, Santa Catarina.

SALDO - Problemas à parte, Curitiba é uma cidade que gostei de conhecer. Difícil criar um rótulo para seu povo e seus costumes a partir de poucos momentos que tivemos em suas ruas e seus bares.
O Intercom, um evento de respeito e muito bem organizado.
A Universidade Positivo mostrou que o ensino privado no Brasil tem muito a ensinar à rede pública.
Sem dúvida, este meu primeiro Intercom nunca sairá de minha memória.


Assim que receber as fotos das máquinas digitais das colegas que cobriram nossos passeios, postarei algumas aqui.

4 comentários:

de mau humor disse...

Bom relato. Quantas aventuras essa viagem, heim? Queria muito ter ido com vcs. Quem sabe ano que vem...

Pati disse...

Realmente acredito que o Intercom está desenhado perfeitamente nas tuas palavras. Ainda vale lembrar que além de termos aprendido muita coisa com os intelectuais e grandes pesquisadores da área, também aprendemos a superar as diferenças, segundo D. Wolton. hehe E com certeza os laços se estreitaram com as aventuras vividas. Bjuuuu

Luciana Carvalho disse...

Sentimos tua falta, Sil, assim como de nossos outros queridos colegas que não estavam conosco. Certamente teremos outras oportunidades de participar de eventos muito legais juntos.

Pati, nem preciso dizer o quanto foi marvilhoso ser hospedada por ti e conviver mais contigo e as outras meninas nesses dias. Como disse Wolton, comunicar é tolerar, é negociar, respeitar e buscar a alteridade. Comunicar é um ato de vida, o que lembra muito nosso Professor Adair.

Vip's disse...

Amiga... não foi uma impressão... realmente, os nativos de lá, são assim. A Ana Lucia morou em Curitiba por algun anos, e reclamava exatamente disso, do humor dos curitibanos, por vezes, arrogantes. Uma pena, pq a cidade é muito linda.