sexta-feira, 9 de maio de 2008

Humanos e condores

Em tempos de tanta violência, um texto para refletir... A autora, Ana Elizabeth Alves Bina, nos autoriza a publicação a seguir:
"Lição
Em Bruxelas, na Bélgica, um casal-condor fez seu ninho na torre de uma igreja. Inúmeras pessoas se encantam. Cena ímpar. Não lembro em qual canal de TV assisti ao encerramento do jornal da noite, que apresentava a cena do filhote, de bico aberto, recebendo o alimento. Do papai condor. E da mamãe condor.
Numa época em que notícias sobre violência avultam, em que lixo serve de berço, em que a fome dizima crianças, o casal-condor oferece, gratuitamente, um exemplo de carinho.
De afeto.
Vi ali um ninho de amor. Vi o feio ceder lugar ao belo, ao doce. Uma bênção. E o bicho-homem se torna pequeno diante deste cenário. Nesta passagem pela terra, nosso aprendizado é constante. E constato que temos muito a aprender com a natureza. Quantas cenas ela nos apresenta no dia-a-dia e às quais sequer prestamos atenção. Nossa pressa em ficar atentos aos últimos e trágicos acontecimentos não nos dá um intervalo para alguma colheita, no mínimo, poética. Algozes de nós mesmos, acabamos decretando a agonia da ternura. Precisamos, rapidamente, estar certos de tudo. Cientes de tudo. O relógio do tempo é célere. Mas inconscientes daquilo que alimenta a alma. Vagões fora dos trilhos, seguimos nossa rota.
Recentemente, a globalização trouxe até nós a Áustria. Não uma Áustria plena de lindos castelos. Mas uma Áustria encarcerada por uma brutalidade dantesca. Por criaturas que não viveram, mas que sobreviveram um dia após o outro. Pelo instinto animalesco, encarcerado no coração de um pai. Pai? É possível ser assim chamado? Não conheci meu pai. Não chegou a ser aquele condor. Mas, hoje, ele me chega através de seus netos, meus sobrinhos. Criaturas encantadoras. E, com eles, sua foto. Sempre cultivei o sentimento de que o amor nasce com a convivência. Mas, quando me deparo com aquele pai austríaco, coloco em xeque minha convicção. Amor? Convivência? Acho que é horror-convivência. Instintivamente, sou levada a comparar. No aprendizado da vida, estou buscando conviver com a foto de meu pai, tentando retirá-lo da moldura e criar laços. Não sei se levará alguns dias, meses... Só sei que preciso alimentar a ternura que existe em mim e continuar a dividi-la. O mundo precisa urgentemente disso. Encontrar e dividir ternura. Aquele pai austríaco certamente não viu a imagem do condor. Uma pena. Também não sabe o que é a dor. Nem lhe apresentaram Deus. O mundo precisa, urgentemente, de explosões de alegria, de sonhos sem fantasmas nem bruxas. De gestos amáveis. De úteros-berços. De beijos que deixem rastros por toda vida. De rostos roçados por mãozinhas cheias de amanhecer. De muitas e muitas catedrais de Bruxelas. De lares-ninhos. De alimento na boca e na alma. E de uma apoteose de meigas imagens, como a daquela pequena família no alto da torre, derramando uma lição de amor."


Ana Elizabeth Alves Bina
05/maio/2008

3 comentários:

Anônimo disse...

Nessa abordagem sobre a violência cabe ainda ressaltar que a falência de instutuições como religião e família, contribuem com a menifestação de comportamento cruel.

http://clara-mente.blogspot.com

Parmitaum disse...

A natureza tem muito a nos ensinar, grande parte das pessoas renegam seus instintos, principalmente no quesito amor... pois esta sendo substituido pelo terror


abraco

Valtércio Mendes disse...

concordo com o amigo "Anderson" que em partes... Religão pode tbem contribuir para a paz.. depende do seu ponto de vista... outra coisa é a família... que na erdade deveria ser o berço da paz... Mas o que acontece, é que a violência ja vem dos exercem poderes políticos... o que indiretamente através de suas negligências poduz a violência... Na verdade, devemos nos comportar a influenciar a paz a todos que estão em nossa volta... um forte abraço para vcs amigos!!!