Uma notícia que gerou polêmica hoje e reverberou nas redes sociais da web diz respeito à demissão do jornalista Felipe Milanez, da revista National Geographic Brasil, pertencente ao Grupo Abril. A demissão ocorreu ontem, após críticas à conduta da revista Veja, pertencente ao mesmo grupo, postadas pelo jornalista em seu Twitter. No meio jornalístico, há opiniões contrárias e favoráveis à demissão. Advogados especialistas em direito digital defendem o direito das empresas demitirem um funcionário que se manifestar contra sua imagem. Eu confesso que lamento a demissão do colega, mas considero ingênuo o pensamento de que o grupo agiu de modo equivocado. Seria lindo praticar a liberdade de pensamento e expressão nas redes sociais mesmo quando se é atrelado a um grupo econômico que tem seus interesses sem ter de arcar com represálias depois. Mas esta não é a realidade. O preço de aceitar um emprego como o que tinha Felipe é acatar a lei da selva. Quer liberdade total? Vai trabalhar como autônomo, o que pode ser tão ou mais lucrativo, mas aí depende a que interesses o jornalista irá servir. Na verdade, liberdade total é algo difícil de conquistar, depende de nossos lugares de fala e dos constrangimentos que eles nos impõem, depende de nossos interlocutores, depende do meio que utilizamos para nos manifestar. Tudo bem que posso alegar que minha conta no Twitter diz respeito a mim enquanto pessoa física, independentemente da posição ou do papel que ocupo social ou institucionalmente. Mas, há mesmo como separarmos as coisas? Basta lembrar o episódio recente envolvendo um executivo de uma empresa da área de tecnologia. Ainda acho que a melhor saída para que coisas assim não se repitam é o bom senso, diálogo. Há que existir um acordo prévio entre funcionários e empresas no sentido de unificar o discurso, estabelecer as regras de comportamento nas redes sociais online e offline. Quem se achar tolhido, que peça demissão, maneire na verborragia ou, então, diga adeuas à Twitter e coisas do gênero.
3 comentários:
Complicado...mas fiquei pensando sobre esse acordo prévio que tu citas entre funcionários e empresas em relação as redes sociais. Não achas que seria autoritário se as empresas proibissem seus funcionários de abrir contas em redes sociais ou vigiassem seus tweets? Me parece assustador. Uma interferência na vida pessoal das pessoas. Mas, Lu, "unificar o discurso"? Como assim? Seria péssimo se os jornalistas ligados a empresas ou grupos reproduzissem nas redes sociais os discursos de suas empresas.
"Quem se achar tolhido, que peça demissão, maneire na verborragia ou, então, diga adeuas à Twitter e coisas do gênero". Então é simples assim? Ha ta. Só falta agora eu ser punida, por exemplo, porque critico a UFSM no blog.
Sil, para começar, é preciso dizer que é bem diferente nossa relação de estudantes com a UFSM, e mesmo de bolsistas da CAPES, da relação que existe entre empregado e empregador. No meio público, é diferente. E emprego é diferente de outro tipo de vínculo.
Em segundo lugar, quando eu falei em unificar o discurso, me referi a haver regras claras antes que aconteçam coisas como a demissão do jornalista da Abril. Se ele tivesse sido avisado que seu emprego estaria em risco se criticasse uma empresa do grupo no Twitter, talvez ele tivesse mudado o tom, ou então tivesse pedido demissão antes, entende? Eu sou a favor da liberdade de expressão, obviamente, mas este post tem a pretensão de desvelar a hipocrisia que temos ao levantarmos bandeira contra os "maus empregadores" e "empresas maquiavélicas" que demitem os pobres funcionários inocentes que usam as redes sociais como quiserem, mesmo indo contra a imagem de quem lhes paga o salário. Estamos falando de empresa privada, capitalismo, seja isso bom ou ruim. Não acho que o cara tenha que puxar-saco de patrão nas redes sociais, só que não vejo problema ou absurdo algum no empregador demitir se achar que foi ofendido. Infelizmente é assim que funciona e não há incoerência alguma nisso. Se quisermos liberdade total de expressão nas redes sociais, basta escolhermos os vínculos que nos permitam isso, trabalhando em uma empresa que nao se importe com o que vamos falar, ou mesmo trabalhando por conta. É o caso de muitos jornalistas que depois de construir um certo prestígio trabalhando para a Globo, por exemplo, resolvem largar tudo e virarem blogueiros. Pagaram por um tempo o preço de serem globais, mas depois conquistaram suas cartas de alforria.
Verdade tudo isso que tu colocaste. Acho que o fotógrafo foi ingênuo mesmo.Ingênuo de achar que seu espaço pessoal, privado, suas opiniões e subjetividades estivessem livres de seus vínculos profissionais. Realmente, o capital se apropria do nosso ser, da nossa vida, e isso é muito assustador. Eu fico muito revoltada de ver este tipo de injustiça. Por mais ingênuo que este cara tenha sido, foi muito injusto ele ter sido demitido, privado de fazer o que gosta, o que lhe dá prazer, por ter dado sua opinião em uma rede social. Injusto.
Postar um comentário