domingo, 2 de dezembro de 2007

Velhas amigas

Hoje, a Patrícia, uma amiga que fiz na época em que era estudante em Santa Maria, veio em casa me visitar. E trouxe a filha, Alice, dois anos mais nova que a Gabi - a minha. Ficamos amigas ao dividirmos apartamento quando eu era acadêmica de Jornalismo na UFSM, e ela fazia cursinho pré-vestibular. Mas, mais do que a divisão do aluguel e das tarefas domésticas, partilhávamos confidências, conflitos existenciais de quando tínhamos algo entre 18 e 21 anos (ela é dois anos mais nova que eu). Em comum sempre tivemos a vontade de realizar algo gratificante, o sonho de "dar certo na vida", o gosto pelas divagações acerca de tudo em conversas que varavam a madrugada (quando dávamos uma folga nos estudos...). Creio que tenhamos convivido sob o mesmo teto durante uns dois anos, sempre em harmonia. Em dado momento nossas escolhas nos levaram a caminhos distintos, e desde então nossos reencontros são sempre esporádicos, passamos mais de ano sem nos vermos e sem trocarmos qualquer telefonema ou email. Cometemos erros lamentáveis, como ela não ter ido na minha festa de 30 anos (coisinha), e eu não ter ido visitá-la quando a Alice nasceu (imperdoável), mas tem um erro que jamais cometemos. Nunca, mesmo que tenhamos sido ausentes ou relapsas durante mais de dois anos, temos a sensação, ao nos reencontrar, de que a cumplicidade não é a mesma dos áureos tempos. Assim foi na tarde deste domingo. Nos encontramos por acaso outro dia, ela ficou de ligar, e ligou hoje a tarde antes de vir. Chegou com a Alice, eu e Gabi as recebemos. Foram duas horas e meia sem pararmos de falar, e ficou muito assunto de fora por falta de tempo. A gente falou mais das mudanças que ocorreram em nossas vidas de adultas nos últimos anos do que dos tempos de Santa Maria. E quanta coisa aconteceu, quanta mudança em nossas vidas - principalmente transformações internas. Tivemos perdas, sofremos frustrações, mas no saldo da balança ganhamos muitas coisas boas. Percebemos, e isso nos fez encher os olhos d' agua, o quanto estamos mais maduras, mais serenas, bem resolvidas e felizes. Não prenchemos os requisitos do manual da vida perfeita, pois nossos caminhos são pra lá de imperfeitos. Ela queria ser médica; "virou" empresária. Eu queria terminar o doutorado aos 30 anos, e ser professora universitária e pesquisadora; "virei" jornalista. Não estamos acomodadas e nem conformistas, mas aprendemos a valorizar o que realmente importa, sem deixarmos de refletir todos os dias sobre nossas escolhas verdadeiras. Uma coisa descobrimos - tem muitos desejos que cultivamos ao longo da vida e pelos quais desprendemos tanta energia que, no final das contas, não valem a pena. Simplesmente porque são objetivos e metas que traçamos por vários motivos - como influência dos outros, necessidade de auto-afirmação, ânsia de agradar a família etc - que nem sempre têm a ver com o que realmente queremos. Felizmente, o tempo é mesmo sábio. Que bom que sempre é tempo de recomeçar, reavaliar, mudar de caminho... O aprendizado é assim. E que bom as verdadeiras amizades sobrevivem ao tempo e às intempéries.

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