quarta-feira, 8 de outubro de 2008

São Gabriel do Oeste

Nos últimos dias acho que estou vivendo em São Gabriel do Oeste, não a outra cidade brasileira que leva o nome do mesmo arcanjo, mas uma cidade hipotética do Velho Oeste americano, aquela dos filmes de cowboy, onde tudo se resolvia na bala e quem mandava era o xerife. Não que na nossa rotina as coisas não funcionem mais ou menos assim o ano todo. Mas neste período que acontece de 4 em 4 anos, e que foi estabelecido pela democracia, paradoxalmente é o momento em que me sinto vivendo em uma terra sem lei. Não que as instituições não funcionem por aqui. Elas até são bem fortes. Mas o tempo que vai do início da campanha eleitoral até o segundo ano após a diplomação dos eleitos é sui generis. Ou seja, ficamos pelo menos 2 anos, sob tensão.
Há quantos anos temos as mesmas forças disputando o voto? São sempre os mesmos alternando-se no poder. Não que não tenham nestes representantes muitas qualidades, mas não é saudável à democracia esta bipolarização. Ou ganha um, ou outro, e ninguém se atreve a ser uma opção. Então, o eleitorado divide-se, com paixões como num Gre-Nal, motivados por razões irracionais ou bem pragmáticas. Bandeiras vermelhas pra cá, amarelas pra lá. Isso até é muito saudável, para quem observa de fora. Quem tiver a experiência de ver a coisa mais de perto, ficará boquiaberto com o que se faz para ver seu candidato declarado o vencedor.
Mas, o que deixa a "terra dos marechais" com cara de cenário de western são as reações daqueles mais apaixonados. Querem quebrar tudo, não admitem nada que contrarie seus desejos. Autoridades, há as que querem se impôr sobre tudo e todos, e aqueles que, em outro extremo, preferem mandar a decisão "lá pra cima", para não se indispor com os poderosos locais.
A imprensa, então, sofre. É pressão de um lado, ameaça de outro, lei que só existe por aqui mandando a gente se calar em época de eleição...
Agora, não se sabe quem será o prefeito a partir de janeiro. É a "vontade do povo", declarada em votos até agora "nulos", de um lado. De outro, o que diz a lei (ou a interpretação que dela fazem), que sabe-se lá quando dará o "veredicto final". Depois do julgamento desse recurso do candidato que recebeu mais votos pelo TSE, que precisa ocorrer antes de encerrado o prazo para a homologação dos resultados das urnas, o que irá acontecer? Se for provido o recurso, ele será o prefeito. Se não, é como se ele não tivesse sido candidato, e o povo jogou o voto fora? Por que fazem isso com o eleitor? Deixam alguém com uma pendência na justiça concorrer, pra depois decidir o que fazer. O eleitor foi enganado por quem? Por quem não julgou antes da eleição? Ou por quem mentia que estava tudo bem e que não corria o risco de naõ ser candidato? Assim como durante a campanha, só ouvimos versões, opiniões...
Tem umas curiosidades também nesta São Gabriel do Oeste gaúcho... Os mesmos que dizem agora que o que vale é o resultado da urna, é a vontade do povo etc, há 4 anos diziam que o então prefeito eleito, e mesmo depois de diplomado e empossado, seria cassado em função de irregularidades durante a campanha, que acabaram não sendo comprovadas. São os mesmos que ficaram meses a fio de prontidão para assumir a prefeitura, assim que o "cassado" saísse. Naquela época, a vontade do povo não valia? Ganhar no "tapetão" não era ilegítimo? Em política, a incoerência é apenas um detalhe. Enquanto isto, em nosso filme de cowboy, a cidade está tomada de PMs, tropa de choque etc. Qualquer dia virão as tropas federais. Só chamando o zorro! Socorro!!!