terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Vamos democratizar a cobertura da tragédia?

2010 começou com tragédia para muitas famílias Brasil afora. O clima tem castigado áreas ricas e pobres, matando gente de todas as classes. No entanto, a cobertura jornalística que assisto na principal emissora do país - e creio que nas demais não é muito diferente - mostra uma discriminação gritante no tratamento dado a uns e outros. Dependendo da procedência de quem morre, tu podes ter na tv homenagens póstumas com direito a entrevista com seus parentes e exibição de vídeos e fotos de seus momentos alegres, ou simplesmente ser mais um número nas estatísticas do obituário. Confesso que fico muito emocionada e triste com o sofrimento que os sobreviventes e parentes da tragédia em Angra dos Reis estão passando. Chego a chorar ao ver os depoimentos nos telejornais, e não estou de forma alguma sendo irônica. Mas, também me dói demais por dentro quando logo depois entra em cena mais uma reportagem em que os mortos não têm nome ou uma história a ser contada. São apenas ninguém. Por que algumas vidas que se perdem de forma tão triste são mais lastimadas que outras? Por que temos que nos identificar com pessoas de classe média que perdem a vida em uma pousada enquanto estavam festejando, e somos convidados a ignorar quem morreu porque o barraco montado em um terreno impróprio desabou sobre sua cabeça? Sinceramente, gosto de ouvir relatos sobre aquelas jovens e alegres vidas de Angra que se foram sob os escombros que a lama levou. Gosto porque acho que eles realmente merecem ser lembrados. Mas não me conformo por não saber quem eram aquelas marias e josés que morreram soterrados do mesmo modo, mas que não devem ter tido uma ceia de ano-novo tão farta quanto a dos vizinhos da bela pousada agora em ruínas. Também gostaria que o jornalismo ultrapassasse sua condição de narrativa e assumisse um tom mais pedagógico, para que coisas assim possam ser evitadas, seja em solo rico ou pobre.