segunda-feira, 18 de julho de 2011

Eu também tenho preconceito...

Agora que trabalho com mídias sociais, acabo não atualizando meus próprios blogs. É falta de tempo, por um lado, e de ânimo, por outro. Já passo o dia todo diante do computador, produzindo conteúdo e interagindo nas mídias dos clientes, que quando acaba o expediente prefiro focar em outras prioridades. Tive um final de semana maravilhoso, comemorei meu aniversário com as pessoas que amo, curti minha casa, organizei algumas coisas. Mas, antes de ir dormir nesta noite de domingo, precisava colocar para fora aqui no blog alguns pensamentos que têm me inquietado por dias. Vamos lá...

Por que somos intolerantes com as diferenças?

Não é de hoje que me meto em polêmica ao expor minha indignação com algumas opiniões de amigos ou conhecidos postadas nas redes sociais. Defendo sempre o direito de as pessoas manifestarem suas opiniões, e exatamente por isso me sinto no direito de também manifestar a minha, o que muitas vezes gera animosidades.  Ultimamente, o que tem me perturbado é a força do preconceito entre pessoas que conheço há tantos anos, que tiveram uma formação parecida com a minha e que, por isso, acredito terem a obrigação de exercitar o raciocício inteligente, a capacidade de relativizar suas próprias crenças e preconceitos, mas que preferem agarrar-se com unhas e dentes a seus julgamentos apressados e intolerantes. Gente que levanta a bandeira da moral e dos bons costumes para condenar a homossexualidade dos outros, mas que não se indigna diante da injustiça social, da corrupção ou da violência. Consideram a novela culpada por deturpar os "valores" da sociedade, perdendo a chance de ver, na ficção, a reprodução crítica da realidade nacional. 

A novela é vista por essas pessoas como manipuladora de corações e mentes, sendo o telespectador visto como um ser incapaz de se posicionar diante do que é mostrado. Se a novela mostra um beijo gay, estaria, para esses arautos da moral e dos bons costumes, incentivando a "prática do homossexualismo" entre as crianças e jovens. Oh, my God! Se acham inadequado para seus filhos, basta trocar o canal ou desligar a televisão. Eu, confesso, prefiro que minha filha saiba como anda o mundo para que esteja preparada para lidar com ele. A novela tem muita bobagem, mas não acho de todo ruim o que anda mostrando.

Por que choca?
Ao mostrar em horário nobre o quão ridícula é a homofobia, a roubalheira, o oportunismo, a televisão está prestando um serviço à família brasileira, pautando temas polêmicos a serem discutidos, promovendo um saudável desconforto entre as pessoas "sentadas na sala de jantar". Mas, quando aqueles que deveriam ser a "elite" pensante - gente com formação universitária e boa condição financeira - utilizam a força da rede social não para aplaudir a oportunidade lançada pelos meios de comunicação mas para condenar e sugerir o silêncio, alguma coisa está muito errada. 

Certamente tenho familiares bem próximos que pensam na mesma corrente que condeno, e discordo de forma veemente e aberta de suas opiniões. Mas, quando o preconceito parte de pessoa mais velha ou sem maior escolaridade, entendo a limitação, a dificuldade de relativizar suas próprias crenças. É preciso um exercício filosófico muito doloroso (e não menos gratificante) para conseguirmos superar valores que nos foram passados ao longo da vida. Para mim não foi um processo rápido e muito menos fácil perceber quanta bobagem me foi ensinada (em casa, na escola, pelos amigos). No entanto, fui privilegiada com um senso crítico bastante aguçado que sempre me permitiu desconfiar diante do "é porque é". O que não consigo entender é gente jovem e com certo nível de estudo que não sabe pensar.

Que tal se colocar no lugar do outro?

Na minha infância, muito ouvi dizer que negros eram seres de menor valor, gays eram depravados, mulheres separadas eram pecadoras, filhos de pais separados eram sempre problemáticos, mulher tinha menos direitos que homem. Felizmente, desde cedo duvidei dessas "verdades" e, graças a muito pensamento, discussão, leitura e, principalmente, ao exercício de observar a contramão, consegui me livrar delas, de algumas só bem recentemente, confesso. E tenho ainda muito preconceito para deixar pelo caminho. Hoje mesmo vi, no Twitter, que um dos últimos preconceitos a serem eliminados da sociedade é o contra mulheres mais velhas, na faixa dos 50, que namoram garotões de 20 poucos. Logo eu, que vivo com alguém 7 anos mais novo , me sinto no direito de olhar atravessado para casais em que a diferença de idade é muito maior! Veja o absurdo da incoerência que os preconceitos nos imputam! Quando me dei conta que eu tenho esse tipo de pensamento pequeno e sem qualquer sentido, me senti muito ridícula. O que há de errado, afinal, em pessoas que se curtem resolverem namorar, casar, viver juntas? Se são do mesmo sexo, se têm níveis sociais diferentes, se nasceram em épocas distintas, qual o problema??? Ah, a fulana é interesseira, ou o fulano só está com a coroa para se promover. Ok, mas o problema é deles e não meu. Não há argumento que sustente nossos preconceitos. Esses casais não estão prejudicando quem quer que seja em função de suas vidas amorosas e sexuais. 

Por que não?
Fico apavorada com os argumentos de quem não quer ver naturalidade em um relacionamento gay. Dizem que é contra a natureza porque eles não irão reproduzir, como se o sexo entre os hétero visasse apenas a reprodução. "Ah, mas e se todo mundo virar homo, o que será da humanidade?". Olha, em primeiro lugar não creio que isso irá acontecer, e mesmo que aconteça, se for para as pessoas se sentirem mais felizes, que seja. Quanto à reprodução da espécie, sempre haverá um amigo gay para uma amiga lésbica interessado em contribuir para a continuidade da raça humana. "Ah, mas uma criança ser criada por dois homens ou por duas mulheres será ruim para o caráter dela". Ah, é? Por que? O que a índole de uma pessoa tem a ver com sua orientação sexual? Ah, e tem o argumento Miriam Rios, que associa homossexualidade com pedofilia. Esse é o pior dos argumentos. Por que raios as chances de uma pessoa homo ser pedófila seriam maiores que de uma hétero??

O homofóbico é machista
O que também não entendo é que grande parte dos homofóbicos adora dizer que aceita os gays, que tem amigos que são, e que é contra a discriminação. No entanto, acham que casal gay não tem o direito de tornar o relacionamento público. Deus o livre andar se pegando ou se beijando na rua! Tá, mas casal hétero pode? Se a pessoa fica chocada de ver um casal trocando um beijo em público, pode ser que ela é que tenha problemas, não? 
Sabe o que eu visualizo diante de gente que ostenta opiniões desse tipo? Por pessoas assim, que acham que igualdade é deturpação dos costumes e dos valores, as mulheres nunca teriam conquistado o direito a votar, trabalhar e ser gente; os negros continuariam sendo escravos; uma vez tendo casado ninguém poderia se separar, e os gays devem todos continuar no armário para não chocar a sociedade. Aliás, é em função dessa hipocrisia toda que até hoje tem muito gay bancando o hétero, casado com uma pessoa do sexo oposto, e infeliz, por medo de enfrentar essa hostilidade toda. Na verdade, tem que ser muito corajoso para se assumir como se realmente é nesse mundo de tanto preconceito e hipocrisia, não é?
Bom, acho que me sinto melhor agora que desabafei um pouco.
Até uma próxima!