sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Jornalismo Bizarro - Parte II

É por estas e outras que defendo a obrigatoriedade do diploma de bacharel em Jornalismo como critério mínimo para a obtenção do registro profissional. Para quem não sabe, a questão vem sendo discutida na Justiça desde 2003, e aguarda a manifestação final do Supremo Tribunal Federal (STF). O que está em jogo é a constitucionalidade ou não da lei que regulamentou a profissão de jornalista, em vigor desde os anos 1970. O argumento usado pelos magistrados favoráveis à derrubada da lei é o de que esta estaria ferindo o princípio da liberdade de expressão, garantido na Constituição Federal. Ora, uma coisa é ter liberdade de expressão, é colaborar com algum órgão de imprensa na condição de comentarista, colunista. Outra é ter um registro profissional que poderia ser concedido indiscriminadamente a qualquer cidadão que comprovasse ser capaz de escrever um texto com algum sentido. Isto sim é uma aberração. Tanto foi assim que quando a primeira liminar foi concedida em favor da liberação geral de registro, foi um corre-corre de gente aos postos do Ministério do Trabalho, interessados em, na noite para o dia, "virar" jornalista. Por aqui até semi-letrados conseguiram o carimbo e suas carteiras de trabalho. Como a gente, que batalhou para entrar em uma universidade federal, ficou quatro anos estudando, lendo, aprendendo, praticando, pode se sentir ao estar na mesma categoria profissional de outra pessoa que mal passou oito anos nos bancos escolares?
Perdoem-me os colegas que são jornalistas provisionados, cujos registros obtiveram a partir desta batalha judicial e que, mesmo sem ter graduação em Jornalismo, exercem a atividade com dignidade e competência. Mas eram outros tempos quando estes começaram. Havia algum cuidado por parte de quem colocava um jornal na rua, na hora de contratar um repórter, por exemplo. Hoje, e principalmente em São Gabriel, vulgarizou-se demais o fazer da imprensa. Por isto, a sociedade deve cobrar dos ministros do Supremo que analisem com cuidado a questão, e pensem na importância da qualificação mínima para que uma profissão possa ser exercida. Se diploma não é tudo, é ao menos um balisador. Assim como para ser advogado tem que ser bacharel em direito e ainda passar na criteriosa prova da OAB, para ser médico tem que fazer faculdade e obter o CRM, pra ser jornalista tem que ter faculdade de Jornalismo. Simples assim.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Intertexto

Passamos de 200 visitas!!! Tudo devido à polêmica da fração ou número inteiro... E o debate esquentou, vide as mensagens de coments. Vejam o texto do Gikovate com o qual a Jo nos brindou. Eu conhecia o texto, havia lido tempos atrás, e só depois de reler percebi que o meu artigo está cheio de referências a ele, sem que eu o tenha citado. Atribuo a falha ao processo natural de intertextualidade que perpassa todo pensamento articulado. O tempo todo nos referimos a outros pensamentos, imagens, idéias, constructos, coisas de natureza diversa que fazem parte de nossa biblioteca infinita de vivências reais e imaginárias. Eu não fazia idéia de que minha construção, ou reconstrução, dizia respeito a tanta gente que antes de mim já pensou parecido. Entrem lá nos comentários dos leitores, ao final do texto, e confiram o debate. Lá está a parte mais dinâmica deste blog. Enjoy!

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Comente você também...

Uma das melhores coisas de se ter um blog, é receber as postagens de comentários dos leitores. Fico muito feliz com eles, são a prova material de que as penas jogadas ao vento neste espaço cibernético promovem algo mais além do caos. Também me dá um prazer enorme quando amigos comentam informalmente pelo msn, ou pessoalmente, algo que escrevi. Amo todos os posts que recebo aqui, mas vou destacar o último, de alguém que foi - acredito - uma de minhas primeiras leitoras e incentivadoras desde a criação do blog. Ah, e é uma mulher que admiro muito, de uma competência e sensibilidade imensuráveis - Jo Macedo, minha amiga psicóloga que coordena um programa de causa nobre nesta cidade...
Ela postou, sobre o texto da resiliência:

Lu...querida...
Já ouviste isso muitas vezes!!! Mas o que é bom...sempre vale a pena repetir!!!
A-do-ro teus textos!!! Simples, verdadeiros, diretos, despretenciosos...acho que isso os torna tão atraentes e elegantes...e deve ser isso tb que me impulsiona a buscar teus escritos, sempre que tenho uma folguinha...a identificação com a nossa parte mais profunda e humana, infelizmente, nem sempre acessível!!!
A resiliência é um termo que a psicologia, há muito, tomou "emprestado" da engenharia...essa incrível capacidade que temos de nos abastecer dos contextos, climas ou pessoas que nos acolhem é o que nos torna resilientes!!! Essa potencialidade para a recuperação de nossa força interna e para a ressignificação dos eventos desagradáveis da nossa vida é resiliência...sem ela...como sobreviveríamos???
Querida...teres este veículo na mão e utilizá-lo positivamente, informando e fortalecendo os sujeitos, no enfrentamento do seu cotidiano, nem sempre muito fácil, é o que te torna uma profissional séria, competente e comprometida com aquilo a que te propuseste...Espero que jamais desistas!!!Bjks no teu coração resiliente!
Jo
6 de Fevereiro de 2008 16:03

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Elisa Lucinda, pra colocar um pouco de filosofia neste carnaval...

Alguns versos:

Aviso da Lua que Menstrua

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.

Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia

(...)

Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.

(...)

Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos...

Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.

Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente.

Ela é uma cobra de avental.

Não despreze a meditação doméstica.

É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofia"(...)


Quanta sabedoria!!!!!!

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Ditadura das formas

Este culto à imagem, que tanto caracteriza nossa sociedade, empobrece demais a vida humana... Preenche o vazio de pessoas vazias e deixa um buraco imensurável na alma de quem pensa. Não é o caso de ser hipócrita ou agir como os iconoclastas, negando completamente o valor das formas e da beleza. Isto é da natureza humana, tanto que os padrões estéticos mudam, mas nunca deixam de existir critérios pra definir o que é belo, e valorizá-lo. O que não podemos deixar de exercitar é nossa capacidade de relativizar o meio no qual vivemos, sob pena de nos tornarmos criaturas alienadas, robôs, marionetes. É saudável buscarmos beleza, sermos atraentes, nos sentirmos bem com nossa própria imagem. Afinal, construímos nossa identidade conforme o olhar do outro, e a auto-estima é um aspecto importante da saúde, inclusive. Doentia é a obsessão pelas formas perfeitas - doenças como anorexia, bulimia e outros transtornos alimentares aí estão para confirmar.
Fiquei sabendo de uma menina de apenas 11 anos, e não é filha de alguma celebridade do mundo da moda ou do showbizz, mas uma criança comum daqui mesmo, de São Gabriel, que foi diagnosticada anoréxica. Não come para não engordar, acha-se sempre acima do peso, tem uma imagem distorcida de seu próprio corpo. Ela é mais uma vítima deste nosso mundinho em que coabitam Barbie Girls e Mc Donald's. De um lado, um apelo exagerado ao corpo perfeito; de outro, a promessa de felicidade em forma de fast food. Como evitar que estas patologias, do corpo e da mente - e aqui a dualidade que há séculos nos fragmenta é proposital - atinja cada vez mais cedo nossas meninas (sim, porque os homens ainda resistem melhor aos apelos da imagem, lidam melhor com a "feiúra")? Como uma criança poderá ter equilíbrio para adotar o bom senso numa escolha destas? Nem querer ser igual a Barbie, tampouco exagerar na gordura trans... Educação em casa, na escola, na turma.
Vi em uma livraria um exemplo muito interessante de iniciativa para ajudar a educar nossas crianças. Em Porto Alegre, dentro de um shopping - o local não poderia ser mais irônico - uma grande livraria desenvolve um projeto de contação de histórias para incentivar os freqüentadores mirins a ler - e comprar livros desde cedo. O que poderia ser apenas uma tática marketeira também acaba servindo de momento filosófico, pedagógico, educativo. Ao interpretar uma história de amor para a criançada, a contadora levou-os a questionar os padrões de beleza atuais. Fiquei espantada ao ver que de um grupinho de umas seis crianças, apenas duas acharam que o mocinho NÃO deveria deixar a namorada APENAS porque ela engordou. Lição negativa: o ideal de magreza está na cabecinha de nossas crianças como uma verdade. O positivo: A contadora os fez pensar, questionou a máxima segundo a qual o amor se baseia apenas nas aparências. Nada de incentivar a obesidade, que faz mal a saúde, mas deixar que as futuras gerações continuem reproduzindo essa ditadura que faz doentes meninas tão jovens, incapazes de ter uma auto-estima em dia, seria uma irresponsabilidade muito grande.

Carnaval? Não sei mais...

Sexta-feira, véspera de carnaval... O fato de que irei trabalhar durante as quatro noites está me incomodando menos que a constatação de que não estou no clima "momesco" (que palavrinha horrorosa!). Talvez seja o tempo nublado, a previsão de chuva, ou simplesmente mais um sinal de uma mudança que borbulha aqui dentro. Sempre gostei de carnaval, ou achei que gostava. Na infância, não perdia os bailes de salão, ou o "carnaval de clube", como chamamos por aqui. Tive a transição em que me achava grande para continuar freqüentando as matinés, e ainda era jovem demais para ir aos bailes a noite. Neste fase ficava assistindo as desfiles das escolas de samba do Rio pela tevê. Sabia decór todos os sambas-enredo. Meu primeiro carnaval noturno foi aos 14 anos, quando ingressei no bloco onde faria os próximos 16 carnavais de minha vida. Mesmo quando morava fora de São Gabriel, e tinha que trabalhar em Porto Alegre durante o feriado, vinha, desfilava uma noite, e voltava na madrugada para estar no começo da manhã na rádio, com cara de ressaca, mas firme. Foram vários anos assim até retornar ao carnaval em tempo integral no bloco. Depois deste retorno, em 2002, apenas no ano passado não fiz carnaval na Jupob e, desde que nasci, foi o último ano em que preferi ir para o litoral. Talvez esta quebra tenha me feito perceber que nem gosto tanto assim de carnaval, porque hoje estou mesmo é com vontade de programas mais aconchegantes, como locar filmes, ficar em frente ao dvd comendo pipoca, sozinha ou bem acompanhada, aproveitando para descansar. Só me inscrevi de novo no bloco porque, como terei de estar na rua a trabalho, fazendo a cobertura do desfile para a rádio, corro o risco de me empolgar e querer prolongar a noite como foliã. Também pode ser que minha vontade continue sendo a de ir pra casa e ficar longe das festas do "carne vale". Bom, neste caso o prejuízo terá sido "apenas" financeiro... Só vou descobrir se ainda gosto - ou acho que gosto - do carnaval depois dessa noite, quando, a princípio, iria numa festa a fantasia. Vou ou num vou?