Eu adoro me envolver em polêmica! Não porque eu seja uma pessoa beligerante, mas gosto de manifestar minha opinião, confrontá-la com outras. Acho que a gente sempre aprende um pouco mais ao se colocar diante de argumentos antagônicos aos nossos.
O gosto pelas discussões vem desde cedo, quando ficava horas à mesa da cozinha, acompanhando meu pai, que jantava depois de chegar do trabalho. Homem simples e de pouco estudo que era, mas de grande sabedoria e experiência de vida, fazia um relato crítico de sua leitura diária dos jornais e do que ouvia no balcão de seu bar, sustento de nossa família. Eu o ouvia, trocava ideias com ele, apresentava minha forma de pensar. Apesar de eu ser tão jovem ainda, ele me escutava com atenção, dava seu contraponto, mostrava admiração pelo meu interesse nos assuntos de gente grande. Às vezes alterávamos a voz, sem brigar. Era uma forma de acalorar o debate de forma saudável, mas apaixonada. Minha mãe nos repreendia.
Quando saí de casa para fazer faculdade, meu pai e eu continuávamos com esse hábito, travando nossos debates em minhas idas, aos finais de semana. Provavelmente esse gosto dele pelos assuntos da vida, indo da política à História, passando pelas crendices populares que ele trazia de sua infância no campo, tenham ajudado a definir minha escolha pelo curso de Jornalismo. Depois que meu pai se foi, continuei "polemizando" aqui e ali. Gosto de me indignar apaixonadamente diante das coisas da vida!
Meu irmão, que era pequeno na época dos debates noturnos que eu tinha com meu pai, também herdou a mania de discutir ideias. Quando nos encontramos, travamos nossos debates, que às vezes chegam a ocasionar um pequeno bate boca, mas sem que isso nos afaste ou minimize nosso afeto. A mãe, agora com o coro da minha filha, continua reprovando!
Exercito minha veia polêmica sempre que posso... Quando trabalhava como repórter/apresentadora na Rádio São Gabriel, aproveitava para polemizar. Acredito na polêmica como metodologia libertária. Ajuda a sacudir preconceitos, a mudar paradigmas, ou pelo menos desacomoda os espíritos conservadores. Mas em São Gabriel não precisei fazer muito esforço para colocar em prática minha veia polêmica. Bastava entrevistar membros do MST. Imagina o que é isso em uma cidade dominada por fazendeiros... Sei que incomodei quando dei ampla cobertura a uma CPI que investigava o então Prefeito por suspeitas de irregularidades em uma licitação. E que satisfação receber, certa vez, o telefonema desaforado da Defensora Pública com seu tom ameaçador porque ela não gostou de alguma informação que dei no ar!
Agora, com as possibilidades trazidas pelas mídias digitais, volta e meia coloco em prática meu gosto pela polêmica. O Facebook está se mostrando um terreno muito fértil. As pessoas postam muito embaladas pela emoção, por impressões momentâneas, e acabam desabafando o que estão sentindo, externando o que estão pensando sobre determinados assuntos. Quando alguma postagem mexe comigo, não hesito em comentar, e adoro quando vejo outras pessoas fazendo o mesmo, seja para discordar ou para endossar o que foi dito.
Essas manifestações a cada dia me surpreendem mais, pois permitem conhecer melhor o modo como pensam pessoas próximas e distantes. O mais legal é que vou encontrando afinidade com gente com quem nunca convivi e divergências com pessoas mais chegadas com quem eu achava que tinha algo em comum.