E segue a novela em São Gabriel. MST "invadiu" a Prefeitura pedindo estrutura para os assentamentos criados no ano passado com a desapropriação de várias propriedades. Segundo o Prefeito Rossano Gonçalves, não chegaram as verbas federais prometidas. O discurso dos dois lados não mudou, mas a situação agora é outra. Antes, políticos da corrente que agora administra o munícipio e ruralistas representados pelo Sindicato, não queriam a instalação do movimento na cidade. Não tiveram sucesso. A Reforma Agrária foi feita, com a entrega das terras. Mas, e agora, sem investimento e estrutura mínima para produzir, essas pessoas estão em seu direito de pedir o que foi prometido. Concordo com o Prefeito que o Governo Federal tem obrigação de cumprir com o que prometeu a essas famílias e à comunidade de São Gabriel. Mas também penso que o Município tem de tratá-los agora como cidadãos gabrielenses que têm direito à saúde, educação, segurança, como todos os demais moradores.
12 comentários:
Querida Luciana:
O conceito de "cidadão" abarca uma série de significados, e ultimamente, reconheço, anda bastante desgastado. Mas vamos nos prender ao significado mais contemporâneo, na linha de Norberto Bobbio, que ensina que "cidadão" é um protagonista ativo da comunidade onde vive, e como tal, pessoa que aceita também o pacto consensual sobre direitos e deveres.
Com este conceito, pergunto: alguém que invade o palácio da prefeitura, depredando um patrimônio que não é deste ou daquele governo, mas de toda a sociedade (a nossa prefeitura é uma das mais bonitas do Estado, você sabe disso)...alguém que assaca os símbolos das instituições que, bem ou mal, constituem a sociedade, realmente quer ser, de fato, um "cidadão"?
Veja bem, não estou debatendo a questão ideológica, porque neste quesito, minha posição é arqui-conhecida. Quero tratar com você os aspectos simbólicos, semânticos, de significação filosófica deste processo todo.
Bom são os textos que provocam comentários. Este é assim. E eu sou bem claro nas minhas opiniões. E odeio pessoas que odeiam movimentos sociais legítimos. Por isso, odeio o professor Cláudio Moreira. Os sem-terra, está na cara, são fruto de todo o modelo errado de política que foi aplicado em nosso país desde os tempos do Império. Agora é muito fácil afirmar que eles não são cidadãos, mas porque eles não têm direito às terras. Por que os donos das terras, que na maioria das vezes são improdutivas, têm este direito? Responda-me, sábio professor. Estarei esperando para ler tuas bobagens.
Amigo Moreira, sua provocação é oportuna, mas realmente o conceito de cidadão que mencionas talvez limite o direito à cidadania apenas àqueles que concordam com tudo que está posto. Sabemos que a História não é feita de linearidade e que as mudanças promovidas ao longo dos séculos tiveram como protagonistas rebeldes, descontentes e inconformados que souberam subverter o que era "consensual". Se fosse diferente as mulheres ainda seriam impedidas de votar.
Felipe, obrigada pelo comentário e pelas contribuições, mas não acredito no ódio. E pediria que você saísse do anonimato... Que tal?
Olha, eu acredito no ódio. Não fico em cima do muro em relação às minhas opiniões. E realmente odeio quem é hipócrita e não enxerga uma palmo a frente de seus olhos, principalmente aqueles que se dizem letrados.
Acho que se sou o Felipe, não estou no anonimato.
Obrigada, Felipe. É que no teu primeiro comentário não aparecia teu sobrenome e nem tinha link para tua url. Imaginei que fosse tu. Sabes minha opinião sobre o tema, apenas tento respeitar quem pensa diferente, embora isso muitas vezes me entristeça. Dá uma olhada em meus posts anteriores sobre o assunto MST em São Gabriel... Rendeu vários comentários também. Sabes o quanto é difícil expressar este tipo de opinião por aí. Aliás, como é aí em Bagé? Tenho essa curiosidade...
E aí Luciana! Eu também tenho respeito pelas pessoas que pensam diferente, mas isso não impede de eu ter raiva...hehehe. Realmente peguei pesado com o nobre professor, mas ontem à noite eu estava um tanto quanto troglodita.
Aqui em Bagé o processo é bem parecido, os ruralistas têm um forte preconceito contra o MST.
Por sorte, os governos de Mainardi e Dudu têm debatido abertamente com a classe.
Quando eu tiver com mais tempo eu conto mais alguns detalhes.
Valeu, Felipe!
Amiga Luciana:
Fiquei um bom tempo sem acessar, e por isso não vi tua resposta a meu comentário, muito menos os posts delicados do jornalista Felipe, que me odeia sem nem mesmo me conhecer.
Ele me chama de professor, o que muito me honraria, mas que não é uma verdade. Talvez o colega tenha problemas com abreviaturas. A abreviação correta de Professor é "prof.". Meu "Pr." é de Pastor, algo que talvez possa provocar mais indignação ainda neste cidadão, se é que ainda conheço a esquerda festiva e seus pré-conceitos.
Quando propus uma análise sobre o conceito de cidadão, o nobre jornalista insinuou que eu quis dizer que eles não são cidadãos porque não tem terra, o que é um raciocínio bovino. E, se fosse esse o critério, não seria o caso, porque terra, agora, eles têm. Não produzem um pé de alface, mas têm.
A questão é outra. É de coesão no tecido social, participação nos consensos socialmente construídos, até para mudá-los.
Mas querer que um colecionador de frases feitas entenda isso é um pouco demais...
Enfim, saudações.
Cláudio, acho que o "ódio" do Felipe já ficou explicado que é mais uma força de expressão do que um sentimento real. Eu não o conheço pessoalmente, mas creio que não se trate de um radical. De qualquer modo, eu não concordo contigo quando fala que cidadão é aquele que deve compartilhar da "coesão social". Sou a favor de um pouco de subversão e creio que alguns movimentos têm mais é que exercer este papel, sob pena de não promovermos nunca as mudanças que queremos. Sinceramente, não acredito mais no poder do voto.
Bem, Luciana..está aí, talvez, nossa principal divergência, que não é nada desprezível...hehe.
Pessoalmente, sou um defensor apaixonado da democracia institucional, que nos civiliza, nos educa e impede que a truculência prospere, seja a dos "cavalcantes", seja a dos "cavalgados", para usar uma expressão cínica de Frei Betto.
Não acho que a subversão ou a violência sejam discursos aceitáveis. Por isso que gosto de Jesus, Luther King e Gandhi, e não tenho a menor admiração por Che Guevara, João Pedro Stédile e Barrabás.
Não sou contra a democracia, mas acho que o modelo representativo atual não tem mais conserto. O que precisa evoluir é o ser humano. Sou também defensora da paz, mas ser pacífico são é sinônimo de ser passivo...
Postar um comentário