quarta-feira, 24 de dezembro de 2008
Meu Natal
Ano passado escrevi sobre uma certa aversão minha a essas datas em que somos obrigados a ser ou parecer felizes. O Natal continua não me motivando muito. Não que seu significado não tenha valor pra mim. Ao contrário, acho que por trás desse consumismo desenfreado e de símbolos um tanto quanto deslocados para nossa cultura, existe um sentido muito bonito de união, paz, amor, tolerância, perdão, esperança, etc. O que me incomoda talvez seja o fato de eu não poder festejar o momento como gostaria. É que da forma tradicional a gente se sente meio levado pela multidão a fazer todo ano as mesmas coisas - jantar com a família (nem sempre os pratos são os que a gente mais gosta), entrega de presentes (a gente se endivida por um prazer tão passageiro), logo depois os abraços ritualizados, e todo mundo depois quer ir para a noite "ver e ser visto". São aqueles cumprimentos quase sempre pouco sinceros, gente que o ano todo finge não lhe conhecer de repente desejando "feliz natal". Há iniciativas maravilhosas nessa época, pessoas que lembram de partilhar com quem tem menos, parentes que resolvem fazer as pazes depois de um tempão sem se falar. É o espírito cristão no ar. Mas, ainda assim, não me sinto uma pessoa melhor após o dia 25. Sinto um certo vazio. Talvez porque esteja me fazendo falta uma experiência verdadeiramente espiritual, mística, que me faça sentir parte de algo maior. Não falo de religião, mas de uma busca pelo essencial. Acabo cedendo aos apelos que me cercam e reproduzindo tudo aquilo que critico, talvez por falta de coragem. É que tocar lá no fundo é doloroso, e muitas vezes fugimos desse contato com nosso melhor, preferindo ficar na superfície. Como eu gostaria de passar o Natal? Talvez descalça, ouvindo um belo som, ao lado das pessoas que amo, longe dos fogos de artifício. Um luxo tão simples que não tenho me permitido...
domingo, 30 de novembro de 2008
Viajar é preciso
Viajar, nada melhor. Se ganhasse na mega-sena ou qualquer outro prêmio desses (não existe a possibilidade, pois não jogo), a primeira coisa que faria seria dar a volta ao mundo. Não que seja a típica aventureira, mas vive em mim um espírito que aprecia por demais o surpreendente. Nada de excursões com típicos turistas por todo o lado, guias chatos e roteiros manjados. O barato da viagem é o desconhecido, ou ao menos uma leitura nova, particular, de um lugar do qual já ouvimos falar. Como meus parcos recursos não permitem, não tenho viajado. Mas, há alguns dias, viajei para São Paulo. Meu destino era São Bernardo do Campo, o B do ABC paulista, lá onde o presidente Lula começou sua vida sindical. Meu roteiro nada tinha de aventureiro: iria para o VI Seminário Nacional de Pesquisadores em Jornalismo apresentar um trabalho acadêmico, aproveitando para assistir as palestras e conhecer a produção dos professores e alunos dos programas de pós-graduação em Comunicação do país. Lá encontraria ao menos cinco colegas de Santa Maria, então estaria em casa. Mas, como parti de São Gabriel e meus horários não coincidiriam com os da turma, resolvi tudo sozinha, pela internet - passagens aéreas, hotel. Já comecei errando o aeroporto - desceria em Guarulhos, bem mais distante de SB do que o de Congonhas. Não consegui informações precisas na internet sobre como chegar ao meu hotel, tampouco os conhecidos que moram em SP souberam me dar informações específicas. Assim, depois de pouco mais de hora de vôo desde Porto Alegre, estava eu no famoso Cumbica, sem saber bem como fazer para chegar ao hotel, de modo que não gastasse tanto dinheiro e nem tanto tempo. Depois de algumas informações, arrisquei o caminho mais fácil: do aeroporto tomei um ônibus até a Estação Tatuapé do metrô, onde peguei a linha em direção a Estação da Sé, que oferecia outra linha até o Terminal Tietê. Assim o fiz, tomando desta última um ônibus para São Bernardo do Campo. Da rodoviária, um táxi e estava no hotel, quatro horas depois da chegada em Guarulhos. Tudo isso carregando uma mala de rodinhas pesando uns 14 kg. Parece uma via crucis? Que nada! Adorei... Conheci um pouco da capital paulista, seus cheiros, sua gente. Foi a melhor parte da viagem! Voltei com mais esperança na humanidade. Em plena maior cidade da América Latina, tive a sensação de que a raça humana tem salvação. Ao ver tantos rostos, ouvir tantos sotaques e trocar algumas palavras pedindo informação para taxistas, guardas, atendentes, não senti hostilidade, ou medo, ou qualquer sentimento negativo. Ouvi palavras cordiais, vi sorrisos... Assim é a maioria, caso contrário o mundo já teria acabado faz tempo. Minha viagem teve ainda convívio com amigos, troca de idéias, conhecimento, horas de lazer. Mas, de tudo, ficou esta impressão otimista com relação ao povo brasileiro. Não sou ingênua, sei de todas as mazelas. Mas, por isto mesmo, me enchi de esperanças. Talvez meu espírito aberto tenha ajudado naquele momento. E creio que aí esteja a essência do verbo viajar - abrir-se ao novo, descartar os preconceitos, os estereótipos, e deixar-se impregnar pelo melhor que o mundo tem a nos oferecer. Esta troca é sempre enriquecedora.
quarta-feira, 8 de outubro de 2008
São Gabriel do Oeste
Nos últimos dias acho que estou vivendo em São Gabriel do Oeste, não a outra cidade brasileira que leva o nome do mesmo arcanjo, mas uma cidade hipotética do Velho Oeste americano, aquela dos filmes de cowboy, onde tudo se resolvia na bala e quem mandava era o xerife. Não que na nossa rotina as coisas não funcionem mais ou menos assim o ano todo. Mas neste período que acontece de 4 em 4 anos, e que foi estabelecido pela democracia, paradoxalmente é o momento em que me sinto vivendo em uma terra sem lei. Não que as instituições não funcionem por aqui. Elas até são bem fortes. Mas o tempo que vai do início da campanha eleitoral até o segundo ano após a diplomação dos eleitos é sui generis. Ou seja, ficamos pelo menos 2 anos, sob tensão.
Há quantos anos temos as mesmas forças disputando o voto? São sempre os mesmos alternando-se no poder. Não que não tenham nestes representantes muitas qualidades, mas não é saudável à democracia esta bipolarização. Ou ganha um, ou outro, e ninguém se atreve a ser uma opção. Então, o eleitorado divide-se, com paixões como num Gre-Nal, motivados por razões irracionais ou bem pragmáticas. Bandeiras vermelhas pra cá, amarelas pra lá. Isso até é muito saudável, para quem observa de fora. Quem tiver a experiência de ver a coisa mais de perto, ficará boquiaberto com o que se faz para ver seu candidato declarado o vencedor.
Mas, o que deixa a "terra dos marechais" com cara de cenário de western são as reações daqueles mais apaixonados. Querem quebrar tudo, não admitem nada que contrarie seus desejos. Autoridades, há as que querem se impôr sobre tudo e todos, e aqueles que, em outro extremo, preferem mandar a decisão "lá pra cima", para não se indispor com os poderosos locais.
A imprensa, então, sofre. É pressão de um lado, ameaça de outro, lei que só existe por aqui mandando a gente se calar em época de eleição...
Agora, não se sabe quem será o prefeito a partir de janeiro. É a "vontade do povo", declarada em votos até agora "nulos", de um lado. De outro, o que diz a lei (ou a interpretação que dela fazem), que sabe-se lá quando dará o "veredicto final". Depois do julgamento desse recurso do candidato que recebeu mais votos pelo TSE, que precisa ocorrer antes de encerrado o prazo para a homologação dos resultados das urnas, o que irá acontecer? Se for provido o recurso, ele será o prefeito. Se não, é como se ele não tivesse sido candidato, e o povo jogou o voto fora? Por que fazem isso com o eleitor? Deixam alguém com uma pendência na justiça concorrer, pra depois decidir o que fazer. O eleitor foi enganado por quem? Por quem não julgou antes da eleição? Ou por quem mentia que estava tudo bem e que não corria o risco de naõ ser candidato? Assim como durante a campanha, só ouvimos versões, opiniões...
Tem umas curiosidades também nesta São Gabriel do Oeste gaúcho... Os mesmos que dizem agora que o que vale é o resultado da urna, é a vontade do povo etc, há 4 anos diziam que o então prefeito eleito, e mesmo depois de diplomado e empossado, seria cassado em função de irregularidades durante a campanha, que acabaram não sendo comprovadas. São os mesmos que ficaram meses a fio de prontidão para assumir a prefeitura, assim que o "cassado" saísse. Naquela época, a vontade do povo não valia? Ganhar no "tapetão" não era ilegítimo? Em política, a incoerência é apenas um detalhe. Enquanto isto, em nosso filme de cowboy, a cidade está tomada de PMs, tropa de choque etc. Qualquer dia virão as tropas federais. Só chamando o zorro! Socorro!!!
terça-feira, 5 de agosto de 2008
O admirável mundo novo da internet
A geração 2.0 da web, esta que vivenciamos hoje - com a interatividade e a possibilidade de participação ativa do usuário falando mais alto, trouxe consigo um fenômeno inédito em termos de comunicação. Além de tudo que temos comentado neste espaço, sobre a “cauda longa” atingindo todos os campos presentes no ciberespaço (política, economia, mercado, jornalismo), há algo muito maior do que uma mudança de mercado. Como disse a professora Raquel Recuero, da UCPEL e UNISINOS, em seu blog sobre redes sociais, estamos presenciando a formação do verdadeiro espaço público da contemporaneidade.
Sem qualquer exagero - levando também em conta que problemas existem e não são poucos – a web está virando um jogo em que as massas vinham perdendo. Até então o que tínhamos era um mundo mediado, de opiniões mediadas, versões mediadas pela perspectiva das grandes empresas de comunicação. A verdade que nos chegava (e ainda nos chega) era sempre a oficial. Quem acha que tem aqui uma avaliação otimista e fora da realidade, ainda não conhece o tamanho deste novo mundo.
O número de blogs (páginas pessoais na internet) cada vez mais sofisticados e com interação cada vez maior de internautas, a influência que estes espaços exercem e a importância que adquirem na vida das pessoas que já descobriram este universo são sinais mais do que evidentes de que uma multidão está aí pensando, opinando e ajudando a formar opinião, trocando informações em zigue-zague (a mão não é dupla, mas em rede), enfim, fugindo da lógica do oficialismo (o “maismtream” ou pensamento hegemônico da sociedade). Todo este capital intelectual, social, pra usar termos de pesquisadores da área, não fica em um submundo, como um espaço alternativo ao mundo “real”. A força dos blogueiros e outros internautas participativos faz fumaça e chama atenção do mundo aí fora. Tem gente ganhando dinheiro, e muito, com idéias inovadoras e sem qualquer capital financeiro pra começar, apostando apenas na criatividade e na competência. Ou como você acha que a galera do youtube ficou milionária? A internet é território sem lei, afirmam os mais pessimistas, atônitos por uma regulamentação. Têm razão quem quer acabar com a pedofilia, os spams (lixo eletrônico indesejado) e outras aberrações. Agora, instaurar a censura em um dos poucos espaços em que ainda temos liberdade de expressão de verdade é, no mínimo, ausência de bom senso. Em um país em que o povo tem a pecha de alienado, semi-alfabetizado, e pouco afeito à leitura como o Brasil, ver tantos jovens marcando presença com seus textos (mesmo que usando a língua do internetês), é alentador.
Sem qualquer exagero - levando também em conta que problemas existem e não são poucos – a web está virando um jogo em que as massas vinham perdendo. Até então o que tínhamos era um mundo mediado, de opiniões mediadas, versões mediadas pela perspectiva das grandes empresas de comunicação. A verdade que nos chegava (e ainda nos chega) era sempre a oficial. Quem acha que tem aqui uma avaliação otimista e fora da realidade, ainda não conhece o tamanho deste novo mundo.
O número de blogs (páginas pessoais na internet) cada vez mais sofisticados e com interação cada vez maior de internautas, a influência que estes espaços exercem e a importância que adquirem na vida das pessoas que já descobriram este universo são sinais mais do que evidentes de que uma multidão está aí pensando, opinando e ajudando a formar opinião, trocando informações em zigue-zague (a mão não é dupla, mas em rede), enfim, fugindo da lógica do oficialismo (o “maismtream” ou pensamento hegemônico da sociedade). Todo este capital intelectual, social, pra usar termos de pesquisadores da área, não fica em um submundo, como um espaço alternativo ao mundo “real”. A força dos blogueiros e outros internautas participativos faz fumaça e chama atenção do mundo aí fora. Tem gente ganhando dinheiro, e muito, com idéias inovadoras e sem qualquer capital financeiro pra começar, apostando apenas na criatividade e na competência. Ou como você acha que a galera do youtube ficou milionária? A internet é território sem lei, afirmam os mais pessimistas, atônitos por uma regulamentação. Têm razão quem quer acabar com a pedofilia, os spams (lixo eletrônico indesejado) e outras aberrações. Agora, instaurar a censura em um dos poucos espaços em que ainda temos liberdade de expressão de verdade é, no mínimo, ausência de bom senso. Em um país em que o povo tem a pecha de alienado, semi-alfabetizado, e pouco afeito à leitura como o Brasil, ver tantos jovens marcando presença com seus textos (mesmo que usando a língua do internetês), é alentador.
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Ombudsman na tevê
Dá uma olhada nos seguintes tópicos:
-relevância para o exercício da cidadania;
-importância cultural e artística;
-credibilidade e interesse público das informações;
-equilíbrio e independência jornalística;
-potencial de entretenimento;
-utilidade comunitária;
Já imaginou uma programação de tv que atenda a estes quesitos e ainda tenha qualidade técnica? Parece utopia, né? Mas é com estes critérios que o novo ombudsman da TV Cultura, o jornalista Ernesto Rodrigues, vai assistir, para poder avaliar com olhos de telespectador dos mais exigentes, a programação da emissora. Pra quem não sabe, ombudsman é um profissional contratado pela empresa para ser o porta-voz do público, apontando pontos positivos e negativos dos produtos, seja em jornais, revistas ou emissoras. Como a missão não é das mais fáceis, e há uma resistência dos jornalistas e das empresas em ter alguém lhes apontando o dedo no nariz todo dia, o cargo anda meio em baixa... O anúncio da Cultura essa semana traz esperanças pra quem luta pela qualidade dos meios de comunicação.
Segundo o portal Comunique-se (http://www.comunique-se.com.br/), "Rodrigues terá uma coluna semanal no site da TV Cultura. Além disso, fará atualizações diárias com comentários sobre a programação da emissora. Num outro momento, também será concedido um espaço na grade."
-relevância para o exercício da cidadania;
-importância cultural e artística;
-credibilidade e interesse público das informações;
-equilíbrio e independência jornalística;
-potencial de entretenimento;
-utilidade comunitária;
Já imaginou uma programação de tv que atenda a estes quesitos e ainda tenha qualidade técnica? Parece utopia, né? Mas é com estes critérios que o novo ombudsman da TV Cultura, o jornalista Ernesto Rodrigues, vai assistir, para poder avaliar com olhos de telespectador dos mais exigentes, a programação da emissora. Pra quem não sabe, ombudsman é um profissional contratado pela empresa para ser o porta-voz do público, apontando pontos positivos e negativos dos produtos, seja em jornais, revistas ou emissoras. Como a missão não é das mais fáceis, e há uma resistência dos jornalistas e das empresas em ter alguém lhes apontando o dedo no nariz todo dia, o cargo anda meio em baixa... O anúncio da Cultura essa semana traz esperanças pra quem luta pela qualidade dos meios de comunicação.
Segundo o portal Comunique-se (http://www.comunique-se.com.br/), "Rodrigues terá uma coluna semanal no site da TV Cultura. Além disso, fará atualizações diárias com comentários sobre a programação da emissora. Num outro momento, também será concedido um espaço na grade."
Personal friend????
Essa eu li hoje no Jornal do Comércio... Depois dos personal stylist chegou a vez dos personal friends. Gente, pagar alguém pra nos ajudar a ter uma imagem melhor, tudo bem. Agora, contratar uma criatura pra posar de companhia na ida ao cinema ou a uma festa, já é demais. Será que estamos tão mal de auto-estima e descrentes nas pessoas que nem uma amizade de verdade conseguimos ter mais? Que está difícil encontrar alguém em quem se possa confiar, é verdade. Mas antes só do que mal acompanhado. E, por mais que seja difícil conviver com os defeitos alheios, o exercício de tolerância e a troca de experiências com quem pensa ou age diferente da gente já vale a pena em relações com pessoas de carne e osso. Não sei você, mas eu ainda prefiro um mau amigo do que uma companhia de aluguel. Sinceramente, acho que o mesmo que leva alguém a pagar por um serviço desses é o que motiva há tantos anos alguns a pagar pelos préstimos sexuais da prostituição. Sempre achei que quem paga pra ter sexo está atestando a própria incompetência para conquistar. Será que estamos caminhando em direção à incapacidade na arte de ser e fazer amigos?
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Copia e cola: burrice escolar tá na moda
Em tempos de "CTRL V" / "CTRL C", virou moda estudantes utilizarem-se de sites de busca para pesquisar na internet temas de seus trabalhos escolares. O problema é que, sem uma pesquisa crítica, tem muita gente "aprendendo" tudo errado. O tema é tão preocupante que tem professores e escolas mundo afora banindo da vida escolar consultas a wikipedia e google. Na verdade, a internet facilitou muito e também ajuda um monte na hora de se fazer um trabalho de pesquisa. O que não pode ocorrer é o estudante limitar-se a copiar o que encontra, sem contrapor versões diferentes ou no mínimo descionfiar do que lê.
O link abaixo é de uma notícia sobre reunião que debateu o tema na SBPC.
http://cienciahoje.uol.com.br/123825
O link abaixo é de uma notícia sobre reunião que debateu o tema na SBPC.
http://cienciahoje.uol.com.br/123825
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Quanto bebe nosso carrinho do dia a dia?
Recebi um email sobre uma suposta conspiração contra os carros elétricos, que seriam a salvação do planeta (e de nosso bolso) não fosse o lobby dos petroleiros. Enquanto não inventam uma Lei Seca para os carros, continuamos tendo de dar de beber a nossos mais queridos meios de locomoção...
Alguém sabe quanto o próprio carro consome realmente de combustível? Os comentários em rodas de conversa, mesas de bar, fóruns na internet e outros espaços de debate não chegam a um consenso. Carros do mesmo modelo, ano, condições de uso semelhantes, e que rodam nos mesmos espaços geográficos fazem, de acordo com o depoimento de seus usuários, relações quilometragem/litro diversas. Tenho um Uno 96, não entendo nada de carros (deu para perceber pelo texto?), mas quero saber quanto tenho realmente que gastar no posto por mês. Fiz uma pesquisa empírica por algumas semanas, abastecendo o suficiente para não ficar na rua, zerando o marcador da quilometragem até achar queestava usando a reserva da reserva. Acho que fiz 11,5 km/litro na cidade... Acho! Muitas pessoas dizem que é pouco para um Uno, outros que é excelente com o motor do meu (sei lá que motor é). Vejo proprietários de veículos falando que têm carro 1.8 e 2.0, e que fazem 10 km/litro na zona urbana. Nunca vi assunto tão controverso. Ainda não sei quanto meu carro realmente consome ou quanto deveria consumir para ser considerado econômico. Alguém conhece alguma tabela que nos livre desta angústia?
quinta-feira, 10 de julho de 2008
O poder nas mãos do internauta
Na próxima quinta-feira (17/07), às 15h, o Portal iG promove um debate ao vivo entre os candidatos à prefeitura de São Paulo. Pelo que se tem notícia, será uma iniciativa inédita na internet brasileira. O grande diferencial em relação aos debates tradicionais, transmitidos pela tevê, é a participação do público, que poderá cadastrar perguntas em vídeo, enviar emails, e participar de bate-papo online. Além disso, um link será disponibilizado para que o debate possa ser reproduzido em qualquer site ou blog. Como se vê, não tem mais volta. A internet é, hoje, o grande suporte desta midiatização que afeta todas as esferas da vida social. Nada escapa de seus tentáculos.
Ciência, religião, política, relações afetivas, nosso dia a dia, tudo é perpassado pelas lógicas da mídia. Se até bem pouco tempo este fenômeno tinha sua centralidade na operação dos meios de comunicação de massa (especialmente da televisão), com a rede mundial de computadores as coisas ganham um novo rumo. A interatividade e a democratização que a internet possibilita representam um marco na Comunicação. Falar em centralidade da mídia antes era pensar no poder de grandes empresas. Hoje, o poder começa a mudar de mãos.
É o que o jornalista norte-americano Chris Anderson chama de “A cauda longa” em livro de 2006 que virou best-seller – a internet estaria tirando o foco do consumo voltado para as grandes marcas e companhias em direção a nichos de mercado. No jornalismo ocorre o mesmo – cada vez mais migra-se da grande mídia para os blogs, sites participativos, enfim, fontes alternativas de informação. Não que as empresas tradicionais da mídia percam terreno ou estejam ameaçadas. Na verdade, o que tem se verificado é uma complementaridade – jornalistas independentes servem-se das informações da grande mídia para abastecer seus blogs, comentando a atuação dos veículos oficiais, por exemplo.
Com meios de comunicação tradicionais e canais alternativos que surgem toda hora na internet convivendo harmonicamente, ao mesmo tempo em que cresce o número de cidadãos com acesso à rede, temos um verdadeiro menu à disposição do consumidor de informações. Este não é mais um sujeito frágil, manipulável pelas grandes corporações. Neste novo cenário, ele pode escolher, porque tem opções a seu dispor ao clicar de um link. Mesmo na internet existem poderosos, mas quem manda mesmo é o internauta, mais do que nunca.
Ciência, religião, política, relações afetivas, nosso dia a dia, tudo é perpassado pelas lógicas da mídia. Se até bem pouco tempo este fenômeno tinha sua centralidade na operação dos meios de comunicação de massa (especialmente da televisão), com a rede mundial de computadores as coisas ganham um novo rumo. A interatividade e a democratização que a internet possibilita representam um marco na Comunicação. Falar em centralidade da mídia antes era pensar no poder de grandes empresas. Hoje, o poder começa a mudar de mãos.
É o que o jornalista norte-americano Chris Anderson chama de “A cauda longa” em livro de 2006 que virou best-seller – a internet estaria tirando o foco do consumo voltado para as grandes marcas e companhias em direção a nichos de mercado. No jornalismo ocorre o mesmo – cada vez mais migra-se da grande mídia para os blogs, sites participativos, enfim, fontes alternativas de informação. Não que as empresas tradicionais da mídia percam terreno ou estejam ameaçadas. Na verdade, o que tem se verificado é uma complementaridade – jornalistas independentes servem-se das informações da grande mídia para abastecer seus blogs, comentando a atuação dos veículos oficiais, por exemplo.
Com meios de comunicação tradicionais e canais alternativos que surgem toda hora na internet convivendo harmonicamente, ao mesmo tempo em que cresce o número de cidadãos com acesso à rede, temos um verdadeiro menu à disposição do consumidor de informações. Este não é mais um sujeito frágil, manipulável pelas grandes corporações. Neste novo cenário, ele pode escolher, porque tem opções a seu dispor ao clicar de um link. Mesmo na internet existem poderosos, mas quem manda mesmo é o internauta, mais do que nunca.
quarta-feira, 25 de junho de 2008
Navegar é preciso, mas não basta...
Bem pessoal, desculpem a ausência, mas estava faltando tempo para o blog. Uma notícia: depois de ficar um bom tempo longe dos jornais impressos (apesar de alguns convites, eu vinha resistindo), esta semana estarei de volta. Ao menos temporariamente publicarei alguns artigos, semanalmente, no jornal Cenário de Notícias. O foco será Comunicação, Mídia, etc.
O primeiro a ser publicado reproduzo abaixo...
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De internautas a produtores de conteúdo: é preciso mais do que navegar
Qual o papel que a internet tem hoje na sua vida? A cada dia que passa, o número de pessoas que têm acesso a computadores e, especialmente, à rede mundial, cresce vertiginosamente. A tão sonhada democratização da informação e do conhecimento, que os meios de comunicação prometeram, mas nunca conseguiram possibilitar de maneira plena, ao que tudo indica terá na web sua materialização. Certamente que ainda estamos longe do dia em que todo mundo terá um computador ligado à rede em casa, no trabalho, ou na escola. Mas você já parou para pensar nas possibilidades de participação que este meio oferece?
Até o surgimento deste novo cenário que se desenha, o rádio era (e ainda continua sendo) o veículo mais democrático do ponto de vista do alcance e da linguagem. Voltado para um universo heterogêneo de ouvintes, sendo capaz de alcançar os locais mais distantes a um custo muito pequeno, sua fala coloquial e próxima do povo o colocou no patamar de meio de comunicação de massa mais popular. Mas, assim como os demais meios, devido às características da tecnologia em uso, manteve o modelo de emissão tradicional (emissor-mensagem-meio-receptor).
O que a web traz assim de tão novo? Quando se fala em interatividade como a característica que diferenciaria a internet dos meios de comunicação tradicionais, há que se pensar que interatividade é esta. No começo, pensava-se que o simples modelo de navegação, através do hipertexto, configuraria uma nova forma de interatividade. O envio de emails, a liberdade no acesso a diferentes sites... Tudo isto seria a grande novidade da nova tecnologia, associada à convergência das demais mídias para o computador – sendo possível ouvir rádio, assistir TV e ler jornal no mesmo ambiente. Bem, não se pode negar que houve um avanço, se levados em conta apenas estes aspectos. Mas, hoje, mais de uma década depois da popularização da rede, é que se está descobrindo o verdadeiro potencial interativo desta tecnologia.
Falar em interatividade hoje na web é remeter a um novo conceito de participação, em que um simples feedback do leitor/usuário não representa nada mais do que uma mera reação no estilo estímulo-resposta. Quer dizer, ter interatividade na internet hoje vai muito além de mandar um email para seu site preferido ou navegar livremente pelo ciberespaço. No mundo inteiro, e no Brasil não é diferente, o antigo modelo de comunicação unidirecional está sendo colocado abaixo.
Embora ainda timidamente, não param de surgir iniciativas que operam um verdadeiro deslocamento no pólo de emissão das mensagens. De meros leitores, internautas estão transformando-se em produtores de conteúdo das mais diversas naturezas. Depois dos blogs, flogs e comunidades virtuais, chegou a vez de a interatividade ser elevada à potência máxima nos sites jornalísticos. O jornalismo participativo, cidadão, open source, dentre outras denominações, é a nova febre da web. Modismo ou revolução? Ainda não se sabe. O certo é que, cada vez mais, navegar só já não basta.
Até o surgimento deste novo cenário que se desenha, o rádio era (e ainda continua sendo) o veículo mais democrático do ponto de vista do alcance e da linguagem. Voltado para um universo heterogêneo de ouvintes, sendo capaz de alcançar os locais mais distantes a um custo muito pequeno, sua fala coloquial e próxima do povo o colocou no patamar de meio de comunicação de massa mais popular. Mas, assim como os demais meios, devido às características da tecnologia em uso, manteve o modelo de emissão tradicional (emissor-mensagem-meio-receptor).
O que a web traz assim de tão novo? Quando se fala em interatividade como a característica que diferenciaria a internet dos meios de comunicação tradicionais, há que se pensar que interatividade é esta. No começo, pensava-se que o simples modelo de navegação, através do hipertexto, configuraria uma nova forma de interatividade. O envio de emails, a liberdade no acesso a diferentes sites... Tudo isto seria a grande novidade da nova tecnologia, associada à convergência das demais mídias para o computador – sendo possível ouvir rádio, assistir TV e ler jornal no mesmo ambiente. Bem, não se pode negar que houve um avanço, se levados em conta apenas estes aspectos. Mas, hoje, mais de uma década depois da popularização da rede, é que se está descobrindo o verdadeiro potencial interativo desta tecnologia.
Falar em interatividade hoje na web é remeter a um novo conceito de participação, em que um simples feedback do leitor/usuário não representa nada mais do que uma mera reação no estilo estímulo-resposta. Quer dizer, ter interatividade na internet hoje vai muito além de mandar um email para seu site preferido ou navegar livremente pelo ciberespaço. No mundo inteiro, e no Brasil não é diferente, o antigo modelo de comunicação unidirecional está sendo colocado abaixo.
Embora ainda timidamente, não param de surgir iniciativas que operam um verdadeiro deslocamento no pólo de emissão das mensagens. De meros leitores, internautas estão transformando-se em produtores de conteúdo das mais diversas naturezas. Depois dos blogs, flogs e comunidades virtuais, chegou a vez de a interatividade ser elevada à potência máxima nos sites jornalísticos. O jornalismo participativo, cidadão, open source, dentre outras denominações, é a nova febre da web. Modismo ou revolução? Ainda não se sabe. O certo é que, cada vez mais, navegar só já não basta.
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Prêmio Tim para gabrielenses
Os gabrielenses devem orgulhar-se com a conquista do Prêmio Tim de Música Brasileira, na categoria Música Regional - Melhor Dupla, pelos conterrâneos César Oliveira e Rogério Melo, com o cd "O campo" (pela gravadora Acit, de Porto Alegre). Merecido! Abraço especial ao Rogério, amigo de longa data, com quem falei hoje ao telefone - já deixando agendada entrevista para a semana que vem, quando ele estará na terrinha. No ano passado eles já haviam sido indicados, mas não levaram o prêmio. É a coroação de uma carreira que não pára de subir. São Gabriel tem dado bons frutos na música. O Tchê Garotos, que tem um gabrielense entre seus integrantes, faz um sucesso estrondoso. No Nenhum de Nós temos o Estevão, grande guitarrista, e o Vicente, acordeonista. Isso falando apenas nos mais famosos. Mas não é só na música que aparecemos no cenário cultural por aí a fora. O escritor Amilcar Bettega Barbosa, nascido aqui, já levou um dos mais importantes prêmios literários do país, o Brasil Telecom. É... a terra de Alcides Maya tem motivos de sobra pra levantar a auto-estima. Temos nossos problemas, mas há que se valorizar o que é bom.
domingo, 25 de maio de 2008
Marcianos e discos-voadores
Uma madrugada dessas assisti uma entrevista de um ufólogo, no programa do Jô. O homem prometia apresentar fotos incríveis que não deixariam dúvidas da veracidade dos relatos de visitas esporádicas de naves extraterrestres em nosso espaço aéreo. Não duvido de vida inteligente fora da Terra, até porque seria muita presunção achar que estamos sós neste universo imenso. Mas até hoje não tive acesso a qualquer informação verossímil sobre tais experiências. As fotos no programa do Gordo nada tinham de extraordinário. Ao contrário, eram iguaizinhas a tantas outras que circulam há décadas por aí. Sempre são imagens noturnas, com pouca nitidez, luzes de formas ovaladas sobre um fundo escuro que podem ser qualquer coisa além de um disco-voador. Desta vez o material seria do "arquivo secreto" da Nasa. Não sei porquê a gente sempre ouve essas histórias de que militares norte-americanos, e até mesmo brasileiros, guardam segredos mirabolantes sobre a presença de ufos que têm nos visitado. Já tive minha fase de apreço por estas teorias conspiratórias. Não que hoje eu esteja totalmente cética. Continuo achando que tudo é possível neste mundo. Mas me recuso a me contentar com retratos-falados de etezinhos verdes cabeçudos de olhos esbugalhados e imagens de óvnis piscantes que cortam o céu nos espiando. Acho mesmo que o problema é querermos dar respostas simplórias para questões complexas. As teorias religiosas e essas outras de ordem mística são sempre limitadas para dar conta de perguntas tão amplas. De onde viemos? Para onde vamos? Existe vida inteligente fora da Terra? Acho mesmo que talvez as respostas estejam bem na nossa cara, poucos palmos a frente de nosso nariz, mas não conseguimos ver, simplesmente porque não temos instrumental para isto. Não dizem que os cães vêem o mundo em preto e branco? A realidade é sempre acessível através de nossos sentidos. Nossos equipamentos de percepção têm seus limites, e nossa cognição condiciona o mundo que construímos a partir do que nos chega a partir dos sentidos. Ou seja, o nosso mundo é o que imaginamos que ele seja. Complicado? Talvez, mas creio mesmo que nossa mente nos limita muito e nos impõe um campo de visão restrito demais para dar conta da complexidade do universo. Quem disse que os ets são todos verdes e com aquelas formas de hominídeo? E que os discos-voadores são todos ovalados e com luzes multicoloridas? Pode ser que sim, mas também pode ser que sejam muito diferentes do que nossa imaginação é capaz de elaborar. Prefiro continuar com o mistério do que me satisfazer com respostas toscas.
quinta-feira, 15 de maio de 2008
Filhos: nosso espelho?
Já é lugar-comum a afirmação de que os pais mais aprendem com seus filhos do que realmente ensinam. Pra quem não tem filhos este parece até mesmo um clichê muito sem graça. Mas, depois que tive minha filha, passei a ver o tal dito de outra forma. Primeiro, porque ter um bebê em casa nos faz enxergar o tempo todo o quanto as coisas poderiam ser encantadoras e misteriosas se víssemos a vida com a mesma curiosidade e desprendimento de uma criança. Hoje, com uma menina de cinco anos cheia de personalidade me chamando de mamãe, encontro mais um motivo para levar a sério a premissa de que temos muito a aprender com nossos filhos.
As crianças, depois de uma certa idade, passam a mostrar traços da personalidade da família. Principalmente, claro, dos pais. Claro que depende de muitos fatores, mas em geral nossos filhos apresentam toda hora algum comportamento, atitude, cacoete que herdaram - ou aprenderam a fazer olhando - de nós. Ver minha filha reproduzinho um traço de minha personalidade pode ser muito gratificante, agradável... quando se trata de algo de que me orgulho. Mas e quando ela sai com alguma atitude que se parece muito com algum de meus piores defeitos? É como ver minha própria imagem em um espelho daqueles deformadores, com lente de aumento, o desenho de minha caricatura mostrando meus piores traços.
Embora seja como um tapa na cara, é nessas horas que aparecem as melhores oportunidades de crescimento pessoal. Como não queremos que nossos filhos vivam reproduzindo os erros que nós cometemos (assim como passamos a vida tentando fugir dos erros de nossos pais), ao nos vermos nas atitudes deles temos a grande chance de mudar, mesmo que seja só para dar um outro "exemplo". Nossos pais são um referencial, o ponto do qual vivemos tentando nos distanciar, para sermos melhores. Já nossos filhos são nossa projeção, a semente que vai ficar em nosso lugar depois que morrermos. Não é fácil mudar certos vícios de comportamento, porque implica em mudar hábitos de pensamento , lógicas arraigadas. Mas, olhar nossos filhos como uma nova oportunidade pode ser muito estimulante. Afinal, queremos sempre evoluir, crescer, melhorar. Um filho pode ser um bom recomeço., um renascimento.
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Humanos e condores
Em tempos de tanta violência, um texto para refletir... A autora, Ana Elizabeth Alves Bina, nos autoriza a publicação a seguir:
"Lição
Em Bruxelas, na Bélgica, um casal-condor fez seu ninho na torre de uma igreja. Inúmeras pessoas se encantam. Cena ímpar. Não lembro em qual canal de TV assisti ao encerramento do jornal da noite, que apresentava a cena do filhote, de bico aberto, recebendo o alimento. Do papai condor. E da mamãe condor.
Numa época em que notícias sobre violência avultam, em que lixo serve de berço, em que a fome dizima crianças, o casal-condor oferece, gratuitamente, um exemplo de carinho.
De afeto.
Vi ali um ninho de amor. Vi o feio ceder lugar ao belo, ao doce. Uma bênção. E o bicho-homem se torna pequeno diante deste cenário. Nesta passagem pela terra, nosso aprendizado é constante. E constato que temos muito a aprender com a natureza. Quantas cenas ela nos apresenta no dia-a-dia e às quais sequer prestamos atenção. Nossa pressa em ficar atentos aos últimos e trágicos acontecimentos não nos dá um intervalo para alguma colheita, no mínimo, poética. Algozes de nós mesmos, acabamos decretando a agonia da ternura. Precisamos, rapidamente, estar certos de tudo. Cientes de tudo. O relógio do tempo é célere. Mas inconscientes daquilo que alimenta a alma. Vagões fora dos trilhos, seguimos nossa rota.
Recentemente, a globalização trouxe até nós a Áustria. Não uma Áustria plena de lindos castelos. Mas uma Áustria encarcerada por uma brutalidade dantesca. Por criaturas que não viveram, mas que sobreviveram um dia após o outro. Pelo instinto animalesco, encarcerado no coração de um pai. Pai? É possível ser assim chamado? Não conheci meu pai. Não chegou a ser aquele condor. Mas, hoje, ele me chega através de seus netos, meus sobrinhos. Criaturas encantadoras. E, com eles, sua foto. Sempre cultivei o sentimento de que o amor nasce com a convivência. Mas, quando me deparo com aquele pai austríaco, coloco em xeque minha convicção. Amor? Convivência? Acho que é horror-convivência. Instintivamente, sou levada a comparar. No aprendizado da vida, estou buscando conviver com a foto de meu pai, tentando retirá-lo da moldura e criar laços. Não sei se levará alguns dias, meses... Só sei que preciso alimentar a ternura que existe em mim e continuar a dividi-la. O mundo precisa urgentemente disso. Encontrar e dividir ternura. Aquele pai austríaco certamente não viu a imagem do condor. Uma pena. Também não sabe o que é a dor. Nem lhe apresentaram Deus. O mundo precisa, urgentemente, de explosões de alegria, de sonhos sem fantasmas nem bruxas. De gestos amáveis. De úteros-berços. De beijos que deixem rastros por toda vida. De rostos roçados por mãozinhas cheias de amanhecer. De muitas e muitas catedrais de Bruxelas. De lares-ninhos. De alimento na boca e na alma. E de uma apoteose de meigas imagens, como a daquela pequena família no alto da torre, derramando uma lição de amor."
Ana Elizabeth Alves Bina
05/maio/2008
Numa época em que notícias sobre violência avultam, em que lixo serve de berço, em que a fome dizima crianças, o casal-condor oferece, gratuitamente, um exemplo de carinho.
De afeto.
Vi ali um ninho de amor. Vi o feio ceder lugar ao belo, ao doce. Uma bênção. E o bicho-homem se torna pequeno diante deste cenário. Nesta passagem pela terra, nosso aprendizado é constante. E constato que temos muito a aprender com a natureza. Quantas cenas ela nos apresenta no dia-a-dia e às quais sequer prestamos atenção. Nossa pressa em ficar atentos aos últimos e trágicos acontecimentos não nos dá um intervalo para alguma colheita, no mínimo, poética. Algozes de nós mesmos, acabamos decretando a agonia da ternura. Precisamos, rapidamente, estar certos de tudo. Cientes de tudo. O relógio do tempo é célere. Mas inconscientes daquilo que alimenta a alma. Vagões fora dos trilhos, seguimos nossa rota.
Recentemente, a globalização trouxe até nós a Áustria. Não uma Áustria plena de lindos castelos. Mas uma Áustria encarcerada por uma brutalidade dantesca. Por criaturas que não viveram, mas que sobreviveram um dia após o outro. Pelo instinto animalesco, encarcerado no coração de um pai. Pai? É possível ser assim chamado? Não conheci meu pai. Não chegou a ser aquele condor. Mas, hoje, ele me chega através de seus netos, meus sobrinhos. Criaturas encantadoras. E, com eles, sua foto. Sempre cultivei o sentimento de que o amor nasce com a convivência. Mas, quando me deparo com aquele pai austríaco, coloco em xeque minha convicção. Amor? Convivência? Acho que é horror-convivência. Instintivamente, sou levada a comparar. No aprendizado da vida, estou buscando conviver com a foto de meu pai, tentando retirá-lo da moldura e criar laços. Não sei se levará alguns dias, meses... Só sei que preciso alimentar a ternura que existe em mim e continuar a dividi-la. O mundo precisa urgentemente disso. Encontrar e dividir ternura. Aquele pai austríaco certamente não viu a imagem do condor. Uma pena. Também não sabe o que é a dor. Nem lhe apresentaram Deus. O mundo precisa, urgentemente, de explosões de alegria, de sonhos sem fantasmas nem bruxas. De gestos amáveis. De úteros-berços. De beijos que deixem rastros por toda vida. De rostos roçados por mãozinhas cheias de amanhecer. De muitas e muitas catedrais de Bruxelas. De lares-ninhos. De alimento na boca e na alma. E de uma apoteose de meigas imagens, como a daquela pequena família no alto da torre, derramando uma lição de amor."
Ana Elizabeth Alves Bina
05/maio/2008
sexta-feira, 2 de maio de 2008
Enquete
Como fiquei sabendo de muitos leitores homens que se ofenderam com o post da mulher melancia, aí está a enquete como mais uma possibilidade de manifestação anônima... Eu preferiria um coment, mas tudo bem... me contento com a votação!
Ah, e não se constranjam, os comentários não precisam e não devem ser apenas de endosso ao que escrevo. Sou fã da diversidade de pensamento, acreditem... Viva o debate!
Ah, e não se constranjam, os comentários não precisam e não devem ser apenas de endosso ao que escrevo. Sou fã da diversidade de pensamento, acreditem... Viva o debate!
Coments, pleaseeeeeeeeeeeeeee!!!!
Queridos leitores, visitantes e afins... Visitar não basta, há que comentar também!!! Please! O contador marca vossas visitas, mas sem coments não dá, né? Por favor, atendam ao pedido desta pobre blogueira carente por interatividade com seus leitores. Valeu!!
quarta-feira, 30 de abril de 2008
Carreira pública ou carreira privada
O que é melhor como carreira profissional - a iniciativa privada, com seus riscos e estímulos, ou o meio público, com sua promessa de estabilidade e tendência ao comodismo? Tenho travado este debate com uma pessoa bem próxima nos últimos tempos e, sinceramente, não cheguei a uma conclusão ainda. Estou há dez anos atuando na área no meio empresarial, com passagens pelo setor público, mas por enquanto apenas como cargo em comissão - ou seja, ainda não tive uma incursão como funcionária pública efetiva, aprovada em concurso. Na verdade, sempre fui resistente aos concursos públicos, contrariando o incentivo familiar para buscar uma carreira estável. A idéia de, aos vinte e poucos anos, entrar para uma empresa na qual ficaria para o resto da vida sempre me soou nada estimulante. Assim, preferi entrar para o concorrido mercado liberal de trabalho, sujeita às intempéries e pressões, competitividade, instabilidade. Não me arrependo. Mas, com a maturidade, e as decepçõpes que levamos no mercado, vamos repensando algumas questões.
Continuo com alergia à burocracia, ao comodismo, mas estou timidamente entrando no mundo concurseiro. "Meu pai tinha razão", acabo pensando. Mas engana-se que escolher o meio público é uma opção fácil. Seleções de nível médio atraem gente com graduação e pós-graduação. Também... Enquanto um técnico de nível médio pode ter vencimentos de até seis mil reais, um professor com doutorado nas universidades federais ganha míseros cinco mil líquidos. Distorções deste Brasil de Deus! Cheguei a me matricular em um cursinho para me preparar para estes concursos, atraída pela possibilidade de ganhar quatro mil mensais. Concorreria com candidatos com apenas nível médio e outros especializados em Direito - cujas disciplinas dominam a maior parte das provas. Desisti. Melhor continuar sendo jornalista, mesmo na área pública, para a qual os concursos pagam bem menos. Dá para entender? Com nível superior o salário é de mil e 500 a 3 mil, e os concursos de nível médio pagam até o dobro.
Embora ainda não tenha uma posição totalmente definida - já disse que tendo a ser melancia - nos debates tenho defendido a carreira pública. Quem defende o meio privado cita como vantagens o estímulo ao crescimento do profissional, as possibilidades de ascensão na carreira, a adrenalina. Também preciso de reconhecimento, valorização, estímulo. Mas, quem tem alguma experiência no meio privado sabe o quanto somos descartáveis para as corporações. Temos nosso ego massageado enquanto somos úteis, e pouco importa nossa qualificação ou competência se deixamos de representar lucro para a empresa. Óbvio, ninguém pensaria que no mercado a lógica seria diferente. Não acredito também que passar em um concurso signifique pendurar as chuteiras e não trabalhar mais. Também há competição, vontade de atender bem ao público, cobrança interna e externa, senso de responsabilidade. Enfim, existe vida inteligente após a aprovação!
quarta-feira, 16 de abril de 2008
Sucupira City
Em Sucupira, tudo vira circo. De assinatura de protocolo de intenções com direito a presença de pseudo-celebridades a abertura de loja com banda de música, tudo é possível. A última foi um show de fogos de artifícios (foquetes, dos bem barulhentos), com pagode rolando, enquanto lá dentro doentes e seus familiares tentavam ter um pouco de paz, à noite.
E a festa continua...
E a festa continua...
Tropa de elite por aqui?
Quando um conflito se estabelece, o que se espera das autoridades da área da segurança? No mínimo, equilíbrio e imparcialidade - se tiver que ter lado, que seja o da lei. Mas, quem garante qual será o lado a primeiro partir para os extremos, em uma luta em que duas forças estão em jogo? Comandantes circulando muito próximos a dirigentes de classe, ganhando "apoio" para agir naquilo que seria sua obrigação, tropa se alimentando às custas de um dos lados da batalha... Nada disso soa bem à população. Assim, quem deveria garantir a tranqüilidade a todos, toma o lado de uma parte, que acha que tem razão. Mesmo que tenha, não pode fazer daqueles que são pagos pela sociedade como um todo, capangas a serviço de seus interesses, sejam eles legítimos ou não. Tropa de Elite não é ficção e nem mesmo algo distante da realidade dos Pampas. Guardadas as devidas proporções, a promiscuidade pelo jogo do poder é a mesma. Só que, aqui, o preço é mais baixo. Ainda!
Cãezinhos assassinados pela cidade
Mortes de cães de estimação por envenamento em São Gabriel viraram rotina. O que tenho recebido de relatos de ouvintes do programa diariamente, é impressionante. Depois que a enfermeira Rosângela Bohrer, moradora do Bairro Vivenda, enviou um email pedindo a repercussão, no ar, da morte de dezenas de cachorros no bairro - incluindo filhotes da própria família e cachorros de vizinhos - notícias dando conta de fatos semelhantes em outros pontos da cidade não páram de chegar. Casos confirmados, e outros suspeitos, pipocam pela cidade. O mais surpreendente é que na maioria dos casos, a substância utilizada pelos criminosos é a mesma - estricnina. Lembram do cafezinho servido anos atrás à classe médica local? A venda, pelo jeito, continua indiscriminada nas farmácias. Órgãos de proteção aos animais, proprietários de cães vitimados e autoridades da área começam a se articular. Aguardemos os desdobramentos...
sexta-feira, 11 de abril de 2008
Além do espelho...
Por que tememos tanto o diferente? Já diria Caetano, "Narciso acha feio o que não é espelho". Temos verdadeiro pânico de nos defrontarmos com o desconhecido, pois não sabemos lidar com ele, já que não temos o conforto de fórmulas prontas ou de um manual que nos indique o caminho. Somos comodistas. Encarar uma nova realidade ou fenômeno, seja de origem natural ou social, implica vivenciar uma situação de crise, desacomodação, conflito, reformulação de conceitos, reinterpretação da realidade, reinvenção de nós mesmos, muitas vezes. Ora, isso tudo dá trabalho, exige esforço, faz pensar. Poucos estão dispostos a tal investimento. Por isso, a maioria de nós prefere viver ancorado em velhos conceitos (em geral pré-conceitos), seguindo velhas fórmulas, reproduzindo o que outros antes já fizeram, sem inovar, sem questionar.
É por medo do desconhecido, ou do que nos é estranho, que rotulamos pessoas ou grupos, atacamos comportamentos como absurdos ou imorais, excluímos de nosso convívio pessoas que pensam diferente da gente, relegamos para a marginalidade aqueles que são tão antagônicos em relação a nós mesmos que não suportamos conviver com sua presença. Somos tão hipócritas que chegamos ao ponto de fazer coro humanista diante da barbárie histórica representada por eventos como o Holocausto, ou a Guerra Santa, ignorando que tais acontecimentos tiveram origem em pensamentos comuns aos que nos fazem, no dia a dia, ser tão narcisistas. É do medo do diferente, é do nosso egocentrismo doentio, da nossa falta de tolerância com o "outro" que nasce a guerra.
Todos somos naturalmente centrados no próprio umbigo, mas ter consciência de tal limitação já nos afasta um pouco de nossa própria perversidade. Fazer um exercício diário de relativismo e distanciamento, ao menos tentando ver a vida com um olhar mais crítico e menos pré-programado. Tal atitude parece pouco, e talvez seja mesmo, mas já ajudaria a nos aproximar um pouco mais de nossa condição de humanidade.
quinta-feira, 13 de março de 2008
Uma vida de verdade
O que faz uma vida valer a pena? Dizem que é relativo. Do ponto de vista antropológico, é mesmo. Depende de cada contexto social, de cada cultura, dos valores de cada sociedade - embora os valores não sejam homogêneos mesmo dentro de um grupo pequeno, visto que existem questões individuais, de família etc, as seleções de cada um. Tenho um certo apreço pelo jeito dos "culturalistas" encararem os fenômenos sociais, mas acredito em alguns valores universais que seriam constitucionais do ser humano, independentes de questões espaço-temporais.
Tomando nossa sociedade como base, essa cultura "hegemônica" do consumismo... O que faz uma vida valer a pena neste contexto? Dinheiro, status, poder, a "imagem"? É por isto que estamos lutando? Batalhando de sol a sol, dando nossa energia, nossa força, largando horas preciosas de vida, tudo isto para... sermos, ao final da jornada, "bem sucedidos", termos o carro do ano, a casa cheia de eletrodomésticos de última geração? Sua vida se justificaria ao final, tendo chegado a este "topo"? A minha não!
O que então, faria uma vida, no mundo que conhecemos, valer a pena? Mesmo imersa nesta sociedade do consumo, da imagem, do espetáculo, consigo visualizar outros valores, "nortes" que me fazem mais sentido. E sei que não sou a única, não estou descobrindo a roda, tanto que há muita gente trilhando caminhos alternativos por aí. Mas temos que mudar o discurso (pre)dominante, até porque os apelos são muitas vezes irresistíveis, para o mais "bicho-grilo" de todos nós, quanto mais para os reles mortais.
A questão é que é muito difícil renunciar a tudo, ir morar numa cabana e viver da pesca artesanal. O Paulo Zulu fez isto - ele pode se dar a tal luxo - mas abre concessões fazendo um que outro desfile. A idéia de bom senso é esta: não se exclua do sistema, mas não deixe que ele domine sua vida.
O problema é que hoje é difícil achar uma saída que não esteja impregnada dessa lógica perversa. Nem mesmo uma religião dá pra seguir hoje sem que cifrões estejam envolvidos. Por isto acredito que precisamos nos voltar para os tais "valores universais". Acho que basta olharmos um pouquinho para dentro de nós mesmos, sentir... Há quanto tempo não sentimos? Apenas fazemos, autômatos que viramos nessa loucura toda. Aqui dentro tem GENTE, um ser que precisa de tão pouco (e o conceito aqui é relativo) pra ser feliz, pra dar sentido à própria vida. Nada de ir morar no meio do mato ou de virar hippye (se bem que já tive vontade), mas posso abrir mão de muitas coisas para em troca ganhar outras muito mais valiosas, e que soam naturalmente como essenciais. Paz de espírito, entusiasmo, saúde, um trabalho que me realize, família por perto, amigos de verdade, e um amor - que ninguém é de ferro. Para ter isto na vida entrego o carro do ano, a casa charmosa, o vestido da moda. Não pense que não gosto "do que é bom", que adoro uma saidinha regada a bons comes e bebes, uma roupinha nova... Mas sem exageros. É pra ter uma vida de verdade que batalho todos os dias, e nada mais.
Tomando nossa sociedade como base, essa cultura "hegemônica" do consumismo... O que faz uma vida valer a pena neste contexto? Dinheiro, status, poder, a "imagem"? É por isto que estamos lutando? Batalhando de sol a sol, dando nossa energia, nossa força, largando horas preciosas de vida, tudo isto para... sermos, ao final da jornada, "bem sucedidos", termos o carro do ano, a casa cheia de eletrodomésticos de última geração? Sua vida se justificaria ao final, tendo chegado a este "topo"? A minha não!
O que então, faria uma vida, no mundo que conhecemos, valer a pena? Mesmo imersa nesta sociedade do consumo, da imagem, do espetáculo, consigo visualizar outros valores, "nortes" que me fazem mais sentido. E sei que não sou a única, não estou descobrindo a roda, tanto que há muita gente trilhando caminhos alternativos por aí. Mas temos que mudar o discurso (pre)dominante, até porque os apelos são muitas vezes irresistíveis, para o mais "bicho-grilo" de todos nós, quanto mais para os reles mortais.
A questão é que é muito difícil renunciar a tudo, ir morar numa cabana e viver da pesca artesanal. O Paulo Zulu fez isto - ele pode se dar a tal luxo - mas abre concessões fazendo um que outro desfile. A idéia de bom senso é esta: não se exclua do sistema, mas não deixe que ele domine sua vida.
O problema é que hoje é difícil achar uma saída que não esteja impregnada dessa lógica perversa. Nem mesmo uma religião dá pra seguir hoje sem que cifrões estejam envolvidos. Por isto acredito que precisamos nos voltar para os tais "valores universais". Acho que basta olharmos um pouquinho para dentro de nós mesmos, sentir... Há quanto tempo não sentimos? Apenas fazemos, autômatos que viramos nessa loucura toda. Aqui dentro tem GENTE, um ser que precisa de tão pouco (e o conceito aqui é relativo) pra ser feliz, pra dar sentido à própria vida. Nada de ir morar no meio do mato ou de virar hippye (se bem que já tive vontade), mas posso abrir mão de muitas coisas para em troca ganhar outras muito mais valiosas, e que soam naturalmente como essenciais. Paz de espírito, entusiasmo, saúde, um trabalho que me realize, família por perto, amigos de verdade, e um amor - que ninguém é de ferro. Para ter isto na vida entrego o carro do ano, a casa charmosa, o vestido da moda. Não pense que não gosto "do que é bom", que adoro uma saidinha regada a bons comes e bebes, uma roupinha nova... Mas sem exageros. É pra ter uma vida de verdade que batalho todos os dias, e nada mais.
terça-feira, 4 de março de 2008
Humano, demasiado humano...
Por que nos preocupamos tanto com o que os outros pensam de nós? Eis uma pergunta que me intriga. Pra começar, quem tem alguma noção da psique humana - mesmo que seja de leitura de almanaque - compreende que "somos" a partir do outro, nos configuramos a partir do que o outro nos diz, de como o outro nos vê. É o famoso "duplo", nossa idéia de alteridade, que diz respeito à nossa configuração a partir da interatividade, das trocas simbólicas. Imagina um ser sozinho numa ilha, sem ter com quem interagir por toda uma vida. Que noção terá ele de si mesmo? Sem ter um semelhante em quem se espelhar, colocaria em outro "objeto" sua fantasia sobre si mesmo - daí a lenda dos meninos-lobo, criados por animais e que passam a agir como eles.
Se o outro é tão importante pro ser humano enquanto espécie, e talvez assim o seja para outros animais, por que estranharmos e negarmos esta influência que a opinião alheia nos impõe? Talvez o que nos incomode seja não o que o outro vê, mas sim o que nós vemos de nós mesmos a partir do olhar do outro. Complicado? Pode ser, mas explico. Não sabemos muito a nosso próprio respeito, esta é a verdade. O pouco que sabemos, temos acesso através de signos os mais diversos - nossas atitudes, nossos pensamentos, produção artística, trabalho. Mas, todas estas manifestações são ainda insuficientes pra nos contar sobre quem realmente somos. Quando convivemos com outras pessoas, temos acesso ao "eu" que só pelo olhar do outro nos é acessível. Óbvio que nao está ali nosso tudo, até porque este é impossível de ser alcançado, por mais terapia que se faça ao longo da vida.
O processo de auto-conhecimento é árduo, e é o amadurecimento que nos vai tornando mais seletivos, exigentes, convictos ou não do que queremos e gostamos. Observar com olhos críticos como somos vistos faz parte deste crescimento pessoal. O que não pode acontecer é nos tornarmos escravos da opinião alheia, vivendo para agradar, para corresponder às expectativas de outrem. Pessoalmente, fico irritada quando me pego cometendo auto-reprovação, auto-opressão apenas por não gostar da idéia de ser julgada. Deixar de fazer algo que me faria bem, que me daria satisfação, apenas porque os outros (não quaisquer outros, mas outros significativos pra mim) não iriam aprovar, é uma coisa que me traz muito desconforto. Por que faço isto? Imagino que o porquê seja um receio inconsciente de deparar com minha própria essência. Afinal, não apenas "somos", nós também forjamos um "ser", um personagem que vemos como nosso "eu" ideal. Quando nos pegamos apenas "sendo", livres de nosso censor interno, automaticamente nos repreendemos, porque estamos nos avaliando pelo olhar dos outros, pela opinião deles. Não seria mais simples apenas "ser"? Bom, seja lá como for, tudo isto faz parte de nossa condição de ser humano. Como diria Nietzsche, "humano, demasiado humano"...
Se o outro é tão importante pro ser humano enquanto espécie, e talvez assim o seja para outros animais, por que estranharmos e negarmos esta influência que a opinião alheia nos impõe? Talvez o que nos incomode seja não o que o outro vê, mas sim o que nós vemos de nós mesmos a partir do olhar do outro. Complicado? Pode ser, mas explico. Não sabemos muito a nosso próprio respeito, esta é a verdade. O pouco que sabemos, temos acesso através de signos os mais diversos - nossas atitudes, nossos pensamentos, produção artística, trabalho. Mas, todas estas manifestações são ainda insuficientes pra nos contar sobre quem realmente somos. Quando convivemos com outras pessoas, temos acesso ao "eu" que só pelo olhar do outro nos é acessível. Óbvio que nao está ali nosso tudo, até porque este é impossível de ser alcançado, por mais terapia que se faça ao longo da vida.
O processo de auto-conhecimento é árduo, e é o amadurecimento que nos vai tornando mais seletivos, exigentes, convictos ou não do que queremos e gostamos. Observar com olhos críticos como somos vistos faz parte deste crescimento pessoal. O que não pode acontecer é nos tornarmos escravos da opinião alheia, vivendo para agradar, para corresponder às expectativas de outrem. Pessoalmente, fico irritada quando me pego cometendo auto-reprovação, auto-opressão apenas por não gostar da idéia de ser julgada. Deixar de fazer algo que me faria bem, que me daria satisfação, apenas porque os outros (não quaisquer outros, mas outros significativos pra mim) não iriam aprovar, é uma coisa que me traz muito desconforto. Por que faço isto? Imagino que o porquê seja um receio inconsciente de deparar com minha própria essência. Afinal, não apenas "somos", nós também forjamos um "ser", um personagem que vemos como nosso "eu" ideal. Quando nos pegamos apenas "sendo", livres de nosso censor interno, automaticamente nos repreendemos, porque estamos nos avaliando pelo olhar dos outros, pela opinião deles. Não seria mais simples apenas "ser"? Bom, seja lá como for, tudo isto faz parte de nossa condição de ser humano. Como diria Nietzsche, "humano, demasiado humano"...
sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008
Jornalismo Bizarro - Parte II
É por estas e outras que defendo a obrigatoriedade do diploma de bacharel em Jornalismo como critério mínimo para a obtenção do registro profissional. Para quem não sabe, a questão vem sendo discutida na Justiça desde 2003, e aguarda a manifestação final do Supremo Tribunal Federal (STF). O que está em jogo é a constitucionalidade ou não da lei que regulamentou a profissão de jornalista, em vigor desde os anos 1970. O argumento usado pelos magistrados favoráveis à derrubada da lei é o de que esta estaria ferindo o princípio da liberdade de expressão, garantido na Constituição Federal. Ora, uma coisa é ter liberdade de expressão, é colaborar com algum órgão de imprensa na condição de comentarista, colunista. Outra é ter um registro profissional que poderia ser concedido indiscriminadamente a qualquer cidadão que comprovasse ser capaz de escrever um texto com algum sentido. Isto sim é uma aberração. Tanto foi assim que quando a primeira liminar foi concedida em favor da liberação geral de registro, foi um corre-corre de gente aos postos do Ministério do Trabalho, interessados em, na noite para o dia, "virar" jornalista. Por aqui até semi-letrados conseguiram o carimbo e suas carteiras de trabalho. Como a gente, que batalhou para entrar em uma universidade federal, ficou quatro anos estudando, lendo, aprendendo, praticando, pode se sentir ao estar na mesma categoria profissional de outra pessoa que mal passou oito anos nos bancos escolares?
Perdoem-me os colegas que são jornalistas provisionados, cujos registros obtiveram a partir desta batalha judicial e que, mesmo sem ter graduação em Jornalismo, exercem a atividade com dignidade e competência. Mas eram outros tempos quando estes começaram. Havia algum cuidado por parte de quem colocava um jornal na rua, na hora de contratar um repórter, por exemplo. Hoje, e principalmente em São Gabriel, vulgarizou-se demais o fazer da imprensa. Por isto, a sociedade deve cobrar dos ministros do Supremo que analisem com cuidado a questão, e pensem na importância da qualificação mínima para que uma profissão possa ser exercida. Se diploma não é tudo, é ao menos um balisador. Assim como para ser advogado tem que ser bacharel em direito e ainda passar na criteriosa prova da OAB, para ser médico tem que fazer faculdade e obter o CRM, pra ser jornalista tem que ter faculdade de Jornalismo. Simples assim.
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Intertexto
Passamos de 200 visitas!!! Tudo devido à polêmica da fração ou número inteiro... E o debate esquentou, vide as mensagens de coments. Vejam o texto do Gikovate com o qual a Jo nos brindou. Eu conhecia o texto, havia lido tempos atrás, e só depois de reler percebi que o meu artigo está cheio de referências a ele, sem que eu o tenha citado. Atribuo a falha ao processo natural de intertextualidade que perpassa todo pensamento articulado. O tempo todo nos referimos a outros pensamentos, imagens, idéias, constructos, coisas de natureza diversa que fazem parte de nossa biblioteca infinita de vivências reais e imaginárias. Eu não fazia idéia de que minha construção, ou reconstrução, dizia respeito a tanta gente que antes de mim já pensou parecido. Entrem lá nos comentários dos leitores, ao final do texto, e confiram o debate. Lá está a parte mais dinâmica deste blog. Enjoy!
quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008
Comente você também...
Uma das melhores coisas de se ter um blog, é receber as postagens de comentários dos leitores. Fico muito feliz com eles, são a prova material de que as penas jogadas ao vento neste espaço cibernético promovem algo mais além do caos. Também me dá um prazer enorme quando amigos comentam informalmente pelo msn, ou pessoalmente, algo que escrevi. Amo todos os posts que recebo aqui, mas vou destacar o último, de alguém que foi - acredito - uma de minhas primeiras leitoras e incentivadoras desde a criação do blog. Ah, e é uma mulher que admiro muito, de uma competência e sensibilidade imensuráveis - Jo Macedo, minha amiga psicóloga que coordena um programa de causa nobre nesta cidade...
Ela postou, sobre o texto da resiliência:
Lu...querida...
Já ouviste isso muitas vezes!!! Mas o que é bom...sempre vale a pena repetir!!!
A-do-ro teus textos!!! Simples, verdadeiros, diretos, despretenciosos...acho que isso os torna tão atraentes e elegantes...e deve ser isso tb que me impulsiona a buscar teus escritos, sempre que tenho uma folguinha...a identificação com a nossa parte mais profunda e humana, infelizmente, nem sempre acessível!!!
A resiliência é um termo que a psicologia, há muito, tomou "emprestado" da engenharia...essa incrível capacidade que temos de nos abastecer dos contextos, climas ou pessoas que nos acolhem é o que nos torna resilientes!!! Essa potencialidade para a recuperação de nossa força interna e para a ressignificação dos eventos desagradáveis da nossa vida é resiliência...sem ela...como sobreviveríamos???
Querida...teres este veículo na mão e utilizá-lo positivamente, informando e fortalecendo os sujeitos, no enfrentamento do seu cotidiano, nem sempre muito fácil, é o que te torna uma profissional séria, competente e comprometida com aquilo a que te propuseste...Espero que jamais desistas!!!Bjks no teu coração resiliente!
Jo
6 de Fevereiro de 2008 16:03
Ela postou, sobre o texto da resiliência:
Lu...querida...
Já ouviste isso muitas vezes!!! Mas o que é bom...sempre vale a pena repetir!!!
A-do-ro teus textos!!! Simples, verdadeiros, diretos, despretenciosos...acho que isso os torna tão atraentes e elegantes...e deve ser isso tb que me impulsiona a buscar teus escritos, sempre que tenho uma folguinha...a identificação com a nossa parte mais profunda e humana, infelizmente, nem sempre acessível!!!
A resiliência é um termo que a psicologia, há muito, tomou "emprestado" da engenharia...essa incrível capacidade que temos de nos abastecer dos contextos, climas ou pessoas que nos acolhem é o que nos torna resilientes!!! Essa potencialidade para a recuperação de nossa força interna e para a ressignificação dos eventos desagradáveis da nossa vida é resiliência...sem ela...como sobreviveríamos???
Querida...teres este veículo na mão e utilizá-lo positivamente, informando e fortalecendo os sujeitos, no enfrentamento do seu cotidiano, nem sempre muito fácil, é o que te torna uma profissional séria, competente e comprometida com aquilo a que te propuseste...Espero que jamais desistas!!!Bjks no teu coração resiliente!
Jo
6 de Fevereiro de 2008 16:03
terça-feira, 5 de fevereiro de 2008
Elisa Lucinda, pra colocar um pouco de filosofia neste carnaval...
Alguns versos:
Aviso da Lua que Menstrua
Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia
(...)
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
(...)
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos...
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental.
Não despreze a meditação doméstica.
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofia"(...)
Quanta sabedoria!!!!!!
Alguns versos:
Aviso da Lua que Menstrua
Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia
(...)
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
(...)
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos...
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente.
Ela é uma cobra de avental.
Não despreze a meditação doméstica.
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofia"(...)
Quanta sabedoria!!!!!!
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008
Ditadura das formas
Este culto à imagem, que tanto caracteriza nossa sociedade, empobrece demais a vida humana... Preenche o vazio de pessoas vazias e deixa um buraco imensurável na alma de quem pensa. Não é o caso de ser hipócrita ou agir como os iconoclastas, negando completamente o valor das formas e da beleza. Isto é da natureza humana, tanto que os padrões estéticos mudam, mas nunca deixam de existir critérios pra definir o que é belo, e valorizá-lo. O que não podemos deixar de exercitar é nossa capacidade de relativizar o meio no qual vivemos, sob pena de nos tornarmos criaturas alienadas, robôs, marionetes. É saudável buscarmos beleza, sermos atraentes, nos sentirmos bem com nossa própria imagem. Afinal, construímos nossa identidade conforme o olhar do outro, e a auto-estima é um aspecto importante da saúde, inclusive. Doentia é a obsessão pelas formas perfeitas - doenças como anorexia, bulimia e outros transtornos alimentares aí estão para confirmar.
Fiquei sabendo de uma menina de apenas 11 anos, e não é filha de alguma celebridade do mundo da moda ou do showbizz, mas uma criança comum daqui mesmo, de São Gabriel, que foi diagnosticada anoréxica. Não come para não engordar, acha-se sempre acima do peso, tem uma imagem distorcida de seu próprio corpo. Ela é mais uma vítima deste nosso mundinho em que coabitam Barbie Girls e Mc Donald's. De um lado, um apelo exagerado ao corpo perfeito; de outro, a promessa de felicidade em forma de fast food. Como evitar que estas patologias, do corpo e da mente - e aqui a dualidade que há séculos nos fragmenta é proposital - atinja cada vez mais cedo nossas meninas (sim, porque os homens ainda resistem melhor aos apelos da imagem, lidam melhor com a "feiúra")? Como uma criança poderá ter equilíbrio para adotar o bom senso numa escolha destas? Nem querer ser igual a Barbie, tampouco exagerar na gordura trans... Educação em casa, na escola, na turma.
Vi em uma livraria um exemplo muito interessante de iniciativa para ajudar a educar nossas crianças. Em Porto Alegre, dentro de um shopping - o local não poderia ser mais irônico - uma grande livraria desenvolve um projeto de contação de histórias para incentivar os freqüentadores mirins a ler - e comprar livros desde cedo. O que poderia ser apenas uma tática marketeira também acaba servindo de momento filosófico, pedagógico, educativo. Ao interpretar uma história de amor para a criançada, a contadora levou-os a questionar os padrões de beleza atuais. Fiquei espantada ao ver que de um grupinho de umas seis crianças, apenas duas acharam que o mocinho NÃO deveria deixar a namorada APENAS porque ela engordou. Lição negativa: o ideal de magreza está na cabecinha de nossas crianças como uma verdade. O positivo: A contadora os fez pensar, questionou a máxima segundo a qual o amor se baseia apenas nas aparências. Nada de incentivar a obesidade, que faz mal a saúde, mas deixar que as futuras gerações continuem reproduzindo essa ditadura que faz doentes meninas tão jovens, incapazes de ter uma auto-estima em dia, seria uma irresponsabilidade muito grande.
Fiquei sabendo de uma menina de apenas 11 anos, e não é filha de alguma celebridade do mundo da moda ou do showbizz, mas uma criança comum daqui mesmo, de São Gabriel, que foi diagnosticada anoréxica. Não come para não engordar, acha-se sempre acima do peso, tem uma imagem distorcida de seu próprio corpo. Ela é mais uma vítima deste nosso mundinho em que coabitam Barbie Girls e Mc Donald's. De um lado, um apelo exagerado ao corpo perfeito; de outro, a promessa de felicidade em forma de fast food. Como evitar que estas patologias, do corpo e da mente - e aqui a dualidade que há séculos nos fragmenta é proposital - atinja cada vez mais cedo nossas meninas (sim, porque os homens ainda resistem melhor aos apelos da imagem, lidam melhor com a "feiúra")? Como uma criança poderá ter equilíbrio para adotar o bom senso numa escolha destas? Nem querer ser igual a Barbie, tampouco exagerar na gordura trans... Educação em casa, na escola, na turma.
Vi em uma livraria um exemplo muito interessante de iniciativa para ajudar a educar nossas crianças. Em Porto Alegre, dentro de um shopping - o local não poderia ser mais irônico - uma grande livraria desenvolve um projeto de contação de histórias para incentivar os freqüentadores mirins a ler - e comprar livros desde cedo. O que poderia ser apenas uma tática marketeira também acaba servindo de momento filosófico, pedagógico, educativo. Ao interpretar uma história de amor para a criançada, a contadora levou-os a questionar os padrões de beleza atuais. Fiquei espantada ao ver que de um grupinho de umas seis crianças, apenas duas acharam que o mocinho NÃO deveria deixar a namorada APENAS porque ela engordou. Lição negativa: o ideal de magreza está na cabecinha de nossas crianças como uma verdade. O positivo: A contadora os fez pensar, questionou a máxima segundo a qual o amor se baseia apenas nas aparências. Nada de incentivar a obesidade, que faz mal a saúde, mas deixar que as futuras gerações continuem reproduzindo essa ditadura que faz doentes meninas tão jovens, incapazes de ter uma auto-estima em dia, seria uma irresponsabilidade muito grande.
Carnaval? Não sei mais...
Sexta-feira, véspera de carnaval... O fato de que irei trabalhar durante as quatro noites está me incomodando menos que a constatação de que não estou no clima "momesco" (que palavrinha horrorosa!). Talvez seja o tempo nublado, a previsão de chuva, ou simplesmente mais um sinal de uma mudança que borbulha aqui dentro. Sempre gostei de carnaval, ou achei que gostava. Na infância, não perdia os bailes de salão, ou o "carnaval de clube", como chamamos por aqui. Tive a transição em que me achava grande para continuar freqüentando as matinés, e ainda era jovem demais para ir aos bailes a noite. Neste fase ficava assistindo as desfiles das escolas de samba do Rio pela tevê. Sabia decór todos os sambas-enredo. Meu primeiro carnaval noturno foi aos 14 anos, quando ingressei no bloco onde faria os próximos 16 carnavais de minha vida. Mesmo quando morava fora de São Gabriel, e tinha que trabalhar em Porto Alegre durante o feriado, vinha, desfilava uma noite, e voltava na madrugada para estar no começo da manhã na rádio, com cara de ressaca, mas firme. Foram vários anos assim até retornar ao carnaval em tempo integral no bloco. Depois deste retorno, em 2002, apenas no ano passado não fiz carnaval na Jupob e, desde que nasci, foi o último ano em que preferi ir para o litoral. Talvez esta quebra tenha me feito perceber que nem gosto tanto assim de carnaval, porque hoje estou mesmo é com vontade de programas mais aconchegantes, como locar filmes, ficar em frente ao dvd comendo pipoca, sozinha ou bem acompanhada, aproveitando para descansar. Só me inscrevi de novo no bloco porque, como terei de estar na rua a trabalho, fazendo a cobertura do desfile para a rádio, corro o risco de me empolgar e querer prolongar a noite como foliã. Também pode ser que minha vontade continue sendo a de ir pra casa e ficar longe das festas do "carne vale". Bom, neste caso o prejuízo terá sido "apenas" financeiro... Só vou descobrir se ainda gosto - ou acho que gosto - do carnaval depois dessa noite, quando, a princípio, iria numa festa a fantasia. Vou ou num vou?
segunda-feira, 28 de janeiro de 2008
Uma certa dose de "depressivo" não faz mal a ninguém
Não é recente a designação “geração Prozac” para a turma que viu nos antidepressivos uma forma de tornar a vida mais feliz. A depressão é um dos males destes últimos anos, e psicólogos, médicos, e pacientes não hesitam em partir para esta solução quase sempre rápida e eficaz. Quem ainda não usou deste artifício para aguentar a pressão que atire a primeira pedra. A crítica subentendida no termo cunhado lá pelos anos 1990 remete a uma questão mais ampla que segue cada vez mais atual. Somos uma sociedade que não suporta melancolia, tristeza, negativismo. Todos temos que viver em um comercial de margarina, sorridentes, felizes, saudáveis, sem problemas aparentes. Depois da invenção do orkut, então... Há uma competição pra ver quem tem o álbum mais bonito, cheio de fotos alegres, em lugares esplêndidos, com o maior número de amigos sorridentes. Todo mundo quer parecer ser o mais popular, ter a família mais perfeita ou viver o romance mais cor-de-rosa.
Enfim, mas o que isto tudo tem a ver com o Prozac mesmo? Que fique claro que sou muito a favor do tratamento de qualquer doença, inclusive já me socorri de alguma outra droga (lícita), certamente filha deste pai dos antideprê. A crítica é a esta nossa ojeriza ao lado mais lúgubre da vida. Eu mesma, quando tive diagnóstico de depressão, foi por conta desta fuga da tristeza. Perdi meu pai e não tive coragem de encarar o luto. Fiquei meses fingindo que tudo poderia seguir normalmente. Resultado: terapia e antidepressivo. Deu certo. Mas não teria sido mais fácil ter encarado o luto de frente? Certos estavam nossos antepassados ao dedicar algum tempo para o convívio com a dor. Aí que está! Hoje temos repulsa a dor, fugimos dela como o diabo foge da cruz. Ninguém quer sentir-se e muito menos parecer triste, ninguém quer ser flagrado na rua com cara de choro. Não suportamos uma música lenta, calma, dolorida, que nos coloque em contato com nossos dramas. Queremos é carnaval o ano todo, nos entorpecemos de álcool aos finais de semana, ouvimos música barulhenta e agitada, tudo isto pra que a alegria vença a tristeza. Que bom que podemos contar com esta profilaxia também. Mas, e de tanto espantar a melancolia, o que acontece? Não seria isto jogar a sujeira pra debaixo do tapete? Uma hora ela vai aparecer... Pode ser através daquele vazio inexplicável, mesmo parecendo que temos tudo pra estarmos felizes. Pode ser aquela dor no peito, aquela raiva, aquele stress sem explicação.
Outro motivo pra questionar esta nossa mania de não querer enfrentar o sofrimento com coragem, olhando de frente nossas dores, é que existe um lado bom nesse estado mais “depressivo” da existência. Li um texto dia desses de um filósofo recomendando doses de depressivo como uma forma de melhorar a vida das pessoas. Segundo sua teoria, uma depressão muitas vezes pode ser fundamental na vida de alguém. Um emprego que nos deixa infeliz, um relacionamento que já se esgotou... Quanta gente só teve coragem de mudar uma situação como estas depois de passar por um estado depressivo? Ou alguém já pensou que seria possível existir filosofia, genialidade, sabedoria, em um mundo em que não existisse depressão, melancolia, silêncio e introspecção?
Luis Fernando Veríssimo andou escrevendo sobre o quanto povos de países frios, em que o fogo agrega e leva a pensar, ao contrário de locais em que o calor é proporcionado pelo sol diretamente, são mais afeitos a criação artística, ao pensamento filosófico, etc. Como não consigo pensar no verão, e no inverno me torno mais afeita a atividades de maior exigência intelectual, sou obrigada a concordar. Mais um argumento pra que passemos a aceitar o estado depressivo não só como algo natural, mas como essencial em dados momentos. Arrisco a dizer que com a idade, tendemos a encarar melhor esta faceta da vida, e até provocamos momentos dor-de-cotovelo como forma de elevar nossa percepção e autoconhecimento. Percebo isto em minhas preferências musicais, escolhas de filmes, que vêm mudando nos últimos tempos. Passei a gostar de ritmos mais melancólicos, como jazz e blues, opto por filmes mais densos, tenho maior simpatia pelo inverno do que quando era mais jovem, me encanto com locais de clima introspectivo, e estou lidando melhor com minhas fraquezas e medos.
Não me entendam mal, isto aqui não é uma ode à tristeza, que quero mais que ela vá embora. Mas é um constato de que em alguns momentos somos obrigados a encará-la, e do quanto é importante sentí-la, trabalhá-la. Ela pode, sim, ser positiva. Porque, quando ela vem, e a gente finge que ela não está ali, a coisa só tende a estourar mais na frente. E aí, só mesmo tomando um antidepressivo...
Enfim, mas o que isto tudo tem a ver com o Prozac mesmo? Que fique claro que sou muito a favor do tratamento de qualquer doença, inclusive já me socorri de alguma outra droga (lícita), certamente filha deste pai dos antideprê. A crítica é a esta nossa ojeriza ao lado mais lúgubre da vida. Eu mesma, quando tive diagnóstico de depressão, foi por conta desta fuga da tristeza. Perdi meu pai e não tive coragem de encarar o luto. Fiquei meses fingindo que tudo poderia seguir normalmente. Resultado: terapia e antidepressivo. Deu certo. Mas não teria sido mais fácil ter encarado o luto de frente? Certos estavam nossos antepassados ao dedicar algum tempo para o convívio com a dor. Aí que está! Hoje temos repulsa a dor, fugimos dela como o diabo foge da cruz. Ninguém quer sentir-se e muito menos parecer triste, ninguém quer ser flagrado na rua com cara de choro. Não suportamos uma música lenta, calma, dolorida, que nos coloque em contato com nossos dramas. Queremos é carnaval o ano todo, nos entorpecemos de álcool aos finais de semana, ouvimos música barulhenta e agitada, tudo isto pra que a alegria vença a tristeza. Que bom que podemos contar com esta profilaxia também. Mas, e de tanto espantar a melancolia, o que acontece? Não seria isto jogar a sujeira pra debaixo do tapete? Uma hora ela vai aparecer... Pode ser através daquele vazio inexplicável, mesmo parecendo que temos tudo pra estarmos felizes. Pode ser aquela dor no peito, aquela raiva, aquele stress sem explicação.
Outro motivo pra questionar esta nossa mania de não querer enfrentar o sofrimento com coragem, olhando de frente nossas dores, é que existe um lado bom nesse estado mais “depressivo” da existência. Li um texto dia desses de um filósofo recomendando doses de depressivo como uma forma de melhorar a vida das pessoas. Segundo sua teoria, uma depressão muitas vezes pode ser fundamental na vida de alguém. Um emprego que nos deixa infeliz, um relacionamento que já se esgotou... Quanta gente só teve coragem de mudar uma situação como estas depois de passar por um estado depressivo? Ou alguém já pensou que seria possível existir filosofia, genialidade, sabedoria, em um mundo em que não existisse depressão, melancolia, silêncio e introspecção?
Luis Fernando Veríssimo andou escrevendo sobre o quanto povos de países frios, em que o fogo agrega e leva a pensar, ao contrário de locais em que o calor é proporcionado pelo sol diretamente, são mais afeitos a criação artística, ao pensamento filosófico, etc. Como não consigo pensar no verão, e no inverno me torno mais afeita a atividades de maior exigência intelectual, sou obrigada a concordar. Mais um argumento pra que passemos a aceitar o estado depressivo não só como algo natural, mas como essencial em dados momentos. Arrisco a dizer que com a idade, tendemos a encarar melhor esta faceta da vida, e até provocamos momentos dor-de-cotovelo como forma de elevar nossa percepção e autoconhecimento. Percebo isto em minhas preferências musicais, escolhas de filmes, que vêm mudando nos últimos tempos. Passei a gostar de ritmos mais melancólicos, como jazz e blues, opto por filmes mais densos, tenho maior simpatia pelo inverno do que quando era mais jovem, me encanto com locais de clima introspectivo, e estou lidando melhor com minhas fraquezas e medos.
Não me entendam mal, isto aqui não é uma ode à tristeza, que quero mais que ela vá embora. Mas é um constato de que em alguns momentos somos obrigados a encará-la, e do quanto é importante sentí-la, trabalhá-la. Ela pode, sim, ser positiva. Porque, quando ela vem, e a gente finge que ela não está ali, a coisa só tende a estourar mais na frente. E aí, só mesmo tomando um antidepressivo...
Mãe e filha em férias
Bom, depois de um recesso de férias, cá estou para retomar esta atividade descomprometida que tanto me apraz. Meus quinze dias de descanso estão chegando ao fim, o trabalho logo me chama, e o ano, finalmente, depois do carnaval, estará começando de fato neste país. Baterias recarregadas por conta do tempo livre que aproveitei fazendo quase todo o planejado – fulltime com minha filha, saidinha para o litoral, festinhas com amigos, mais tempo para a casa, e para a reflexão.
Destaque para a programação maternal que me aproximou ainda mais de minha rebenta... Perceber que aos quatro anos ela já é uma grande companhia para viagem: não tem preço! Também não tem preço vê-la apreciar programas simples e tão importantes para seu desenvolvimento como aprender que a vida em uma capital é diferente de sua rotina interiorana. Levá-la para andar de metrô, ir ao cinema, a um grande parque com suas praças e mini-zoo, chegar na hora do conto em uma grande livraria e ver sua carinha de satisfação querendo comprar livros... Simples, e tão fundamental! Lições que passo nas horas de convívio das quais não abro mão e dão retorno a cada dia, quando ela faz comentários sobre economia (se comprar isto não terá dinheiro para aquilo), trabalho (as horas de lazer são resultado do período de trabalho), carreira (suas primeiras tentativas de descoberta de uma vocação – ela disse que quer ser veterinária), enfim, a gratificação de ser mãe e ter comprometimento com esta função vitalícia. Me sinto guiando a pessoa mais importante de minha vida, ajudando a forjar sua personalidade, seus princípios, seus valores, em atividades prazerosas, lúdicas, e com uma carga enorme de afeto e de aprendizado mútuo. Isto o que quero pra ela: que seja uma mulher íntegra e inteira como tento ser, uma cidadã com valores humanistas, preocupada com sua felicidade e com o bem-estar do meio em que vive, que ultrapasse a busca pelo sucesso pessoal em suas escolhas, e que contribua para tornar este mundo menos injusto. Sentir os pontos positivos que ela apresenta em sua evolução diária como ser em formação diminui a culpa que toda a mãe carrega em si, pelas falhas que comete ou simplesmente porque este é um sentimento que constitui a essência feminina - ao menos em nossa sociedade machista. Este convívio sem horário para nos limitar fortaleceu nosso vínculo e trouxe, individualmente, para cada uma de nós, crescimento afetivo e intelectual. Férias podem ser muito mais do que um tempo em que nada se faz! Tudo depende de como aproveitamos. Que bom que pra mim, e penso que pra ela também, foi tão rico este período!
Destaque para a programação maternal que me aproximou ainda mais de minha rebenta... Perceber que aos quatro anos ela já é uma grande companhia para viagem: não tem preço! Também não tem preço vê-la apreciar programas simples e tão importantes para seu desenvolvimento como aprender que a vida em uma capital é diferente de sua rotina interiorana. Levá-la para andar de metrô, ir ao cinema, a um grande parque com suas praças e mini-zoo, chegar na hora do conto em uma grande livraria e ver sua carinha de satisfação querendo comprar livros... Simples, e tão fundamental! Lições que passo nas horas de convívio das quais não abro mão e dão retorno a cada dia, quando ela faz comentários sobre economia (se comprar isto não terá dinheiro para aquilo), trabalho (as horas de lazer são resultado do período de trabalho), carreira (suas primeiras tentativas de descoberta de uma vocação – ela disse que quer ser veterinária), enfim, a gratificação de ser mãe e ter comprometimento com esta função vitalícia. Me sinto guiando a pessoa mais importante de minha vida, ajudando a forjar sua personalidade, seus princípios, seus valores, em atividades prazerosas, lúdicas, e com uma carga enorme de afeto e de aprendizado mútuo. Isto o que quero pra ela: que seja uma mulher íntegra e inteira como tento ser, uma cidadã com valores humanistas, preocupada com sua felicidade e com o bem-estar do meio em que vive, que ultrapasse a busca pelo sucesso pessoal em suas escolhas, e que contribua para tornar este mundo menos injusto. Sentir os pontos positivos que ela apresenta em sua evolução diária como ser em formação diminui a culpa que toda a mãe carrega em si, pelas falhas que comete ou simplesmente porque este é um sentimento que constitui a essência feminina - ao menos em nossa sociedade machista. Este convívio sem horário para nos limitar fortaleceu nosso vínculo e trouxe, individualmente, para cada uma de nós, crescimento afetivo e intelectual. Férias podem ser muito mais do que um tempo em que nada se faz! Tudo depende de como aproveitamos. Que bom que pra mim, e penso que pra ela também, foi tão rico este período!
sábado, 12 de janeiro de 2008
Que tal sermos resilientes?
Lendo uma revista* outro dia encontrei uma palavra que até já havia visto em algum outro lugar, mas que não me havia ainda feito sentido. Como o tal vocábulo era exatamente o tema central da matéria em questão, desta vez não me passou despercebido. Pois bem. O termo em questão era “resiliência”. Palavra até bem pouco tempo restrita ao campo da Física, agora está se tornando um verdadeiro modismo em diversos campos das Ciências Humanas, e começa a se popularizar.
Na Física, resiliência é a capacidade de determinados materiais de resistirem a choques, voltando a sua forma original. Nas áreas humanas, que adotaram o termo, está sendo associada à capacidade das pessoas de enfrentarem bem situações difíceis e saírem delas mais fortalecidas. Como dizia na matéria que li, é o famoso “sacudir a poeira e dar a volta por cima”.
Fiquei pensando sobre as características que tornariam uma pessoa mais resiliente, e no quanto o mundo pós-moderno em que vivemos exige cada vez mais gente com este perfil. Não é a toa que este é hoje um atributo bastante valorizado na área da gestão. Psicólogos e especialistas em Recursos Humanos vêm se debruçando sobre o termo, a fim de trabalhar a resiliência no mundo dos negócios e na vida pessoal de seus clientes. Numa sociedade multifacetada como a nossa, cheia de diferenças e com tanta informação disponível ao mesmo tempo, ser resiliente é uma necessidade. Mas, afinal, o que é ser uma pessoa resiliente? Adaptar-se às situações, não desanimar, não se fazer de vítima diante das adversidades, ter iniciativa, aprender com os erros... Está aí um bom desafio para um começo de ano!
*Revista “Vida Simples” – Editora Abril
(http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/061/01.shtml)
Na Física, resiliência é a capacidade de determinados materiais de resistirem a choques, voltando a sua forma original. Nas áreas humanas, que adotaram o termo, está sendo associada à capacidade das pessoas de enfrentarem bem situações difíceis e saírem delas mais fortalecidas. Como dizia na matéria que li, é o famoso “sacudir a poeira e dar a volta por cima”.
Fiquei pensando sobre as características que tornariam uma pessoa mais resiliente, e no quanto o mundo pós-moderno em que vivemos exige cada vez mais gente com este perfil. Não é a toa que este é hoje um atributo bastante valorizado na área da gestão. Psicólogos e especialistas em Recursos Humanos vêm se debruçando sobre o termo, a fim de trabalhar a resiliência no mundo dos negócios e na vida pessoal de seus clientes. Numa sociedade multifacetada como a nossa, cheia de diferenças e com tanta informação disponível ao mesmo tempo, ser resiliente é uma necessidade. Mas, afinal, o que é ser uma pessoa resiliente? Adaptar-se às situações, não desanimar, não se fazer de vítima diante das adversidades, ter iniciativa, aprender com os erros... Está aí um bom desafio para um começo de ano!
*Revista “Vida Simples” – Editora Abril
(http://vidasimples.abril.com.br/edicoes/061/01.shtml)
sexta-feira, 4 de janeiro de 2008
Tá com medo de amar?
“O medo de amar é o medo de ser livre”. Sábia frase da música eternizada pela Pimentinha! As pessoas estão com medo de ultrapassar a superficialidade das relações, todos estamos fugindo daquilo que paradoxalmente buscamos para preencher o insuportável vazio da existência. Principalmente os homens usam o eufemismo da “liberdade” pra fugir do amor. Que liberdade é esta que implica na renúncia ao que de mais essencial pode haver? Há algo mais libertário do que o amor? Não se encontra todo dia, não. E não se trata de uma crítica apenas a quem foge de envolvimento sério, porque também foge do amor quem acha que está livre da busca ao se acomodar em uma relação “forçada”. É legal viver livre, solteiro, sem amarras. Mas se o amor pintar? Deixemos ele entrar, abramos o coração, a mente, o nosso mundo. Se não for amor, não nos prendamos. Se for, libertemo-nos. Que seja assim em 2008...
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